Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

30
Dez 07

A ALFÂNDEGA DE VIANA

 

 

Edifício da Alfândega de Viana do Castelo

 

Segundo M. A. F. Moreira  no livro - A Alfândega de Viana e o Comércio de Importação de panos no Séc. XVI - [ Por sua vez Viana e Caminha estiveram unidas muito tempo, nascendo daí a designação de " Viana de Caminha", atribuída à primeira. A Alfândega de Viana é das mais antigas do Noroeste. Já existia em 1402, altura em que D. João I lembrou aos oficiais a obrigatoriedade de despacharem com brevidade...]

 

 

 

Antigo cais da Alfândega

 

Mais adiante o mesmo autor escreve relativamente à construção do edifício, [Em relação a Viana é sabido que também o referido Marquês ( de Vila Real) possuía casa de Alfândega, situada na rua do mesmo nome, onde eram recolhidas a dízima velha e nova do pescado, como a portagem, que o dito rei, naquela data, havia feito mercê, " ressalvando tam somente para nós as sisas gerais e dízimas da nosa allfandegua". A construção do edifício da mesma deve ter sido realizada na década de 30 de quinhentos, pois, em 1537 o município vianense  alimentava demanda, na corte de D. João III, contra o referido Marquês, enviando a Lisboa Rodrigo Álvares, munido de vários autos a fim de impedir a construção da mesma. Estas duas alfândegas do Marquês desapareceram por volta de 1643, a quando da inclusão dos bens daquela família nobre na Casa do Infantado]

 

 

Anfiteatro construído nos terrenos conquistados ao rio Lima - em primeiro plano lajes do antigo cais da Alfândega

 

 

Armazém da Alfândega - anexo à Alfândega

 

Ainda sobre o edifício refere, [ As alfândegas funcionavam em edifícios próprios. A aduana de Viana tinha assento extra-muros, entre as portas do Postigo e da Vitória, virada para o rio, em local que ainda hoje serve idêntica finalidade. Sabemos que o edifício, construído empleno séc. XV, se tornou exíguo, mais tarde, na época de seiscentos, devido ao movimento de açucares brasileiros. Na verdade, " por a alfândegua ser piquena, se metem os asuqres em lojas abriguados"]

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FAROLIM DO BUGIO

 

Actual farolim do Bugio - à direita a estrutura inicial transladada do antigo cais do Bugio

 

O farolim do Bugio já é muito antigo. Manuel António Fernandes Moreira que tem dedicado ao porto de Viana do Castelo, vários trabalhos de investigação histórica, no livro - O PORTO DE VIANA DO CASTELO NA ÉPOCA DOS DESCOBRIMENTOS - faz menção  à existência de baixios e penedos na entrada da barra e da necessidade da colocação de sinais no canal de acesso.

[ Em 1531 a Câmara utilizou 14 mil rs. da imposição " pera se fazer sinal de emtrada da barra pera naom se perderem os navyos". Do trabalho de pedreiro foi encarregado Álvaro Mendes, "q elle faça hu sinall e marqua, de sorte e feyção q he o sinall de Santa Marya da Vynha, de largura e altura, e com hua fresta pra nella podere por hua lampada, diguo, hua lanterna". Mais tarde em 1548 foram erguidos mais dois sinais, "q se façam doys synais ha emtrada da barra, nos lugares mays convenyentes, pera q os navyos se guiassem... de pedra, grandes e cayados". Ficariam a cargo da Confraria do Nome de Jesus dos Mareantes]

 

 

O porto de Viana do Castelo na época dos descobrimentos

 

Os Livros de Acordãos e, de Receitas e Despesas da Câmara Municipal de Viana do Castelo, respectivamente abreviados por L.A. e L.R.D., dão-nos conta que :

 

[L.A., 1531, 1 , 43 e 44. L.A.,1548, 2, 7. Gonçalo Duro, pedreiro, levou em Março de 1552 " pello synall que fez da outra banda do ryo na rua abaixo do monte de Darque" 800 rs. (L.R.D., 1552, 14). Passados seis anos a Câmara pagou por erguer o pau do Borrão (BUGIO), " por omde passam os navyos" 850 rs. (idem,1558, 38). Em 1566 por outro mastro colocado à entrada da barra,200 rs. (idem,1566, 27). No ano seguinte, foi renovado o referido pau do Borrão (idem, 1567, 25). Em 1604 trazia a Câmara demanda na Corte sobre a existência de moinhos na zona da Foz, no lugar de Sainhas, " com q se empedia a barra desta villa e a navegação do ryo" (L. A., 1604, 28). Frequentemente as balizas erguidas ao longo da barra para demarcar o corredor navegável precisavam de ser reparadas. As mais conhecidas tinham o nome de pau do Borrão e marca da Linhaça. No alto do montede Santa Luzia existia um farol. Mantinha-se aceso toda a noite. Nele se consumia azeite ou graixa. O pavio era de linho. Estava resguardado de vidros armados em ferro. Possuía caldeira e armazém. A Câmara mantinha um guarda permanente de vigilância (L. R. D., 1625,19).]

 

 

 Plano da barra de Viana com  o farolim do Bugio na lage da barra

 

No plano acima, pode-se ver o Cais do Rapelho, implantado sobre a camboa do Rei. Ainda não estava ligado à lage da barra onde se situa o Bugio. Sómente por volta de meados de oitocentos - época de grandes empreendimentos no sector das obras públicas - com a carta de lei com o objectivo de " prover ao melhoramento do porto e barra de Viana do Castelo e à construção de uma nova ponte sobre o rio Lima", é que o cais do Rapelho é prolongado até ao Bugio passando a ser conhecido por cais do Bugio.

 

 

 Ensecadeira para a construção do anteporto e doca de pesca - ao fundo o cais do Bugio

 

Em 1993 terminaram as obras de demolição do antigo cais do Bugio, para permitir a construção de um novo cais de amarração  e um aumento da bacia de manobra para 300 metros, possibilitando assim aos Estaleiros Navaisnão só construir como reparar ou reconverter navios até 30.000 toneladas de porte bruto e 170 metros de comprimento.

Por sugestão dos Pilotos da barra, a administração dos Estaleiros Navais da altura, recuperou o antigo pedestal do antigo Farolim do Bugio ( pau do Borrão) reerguendo-o no local onde hoje se encontra.

 

 

Ampliação da bacia de manobra e construção do novo cais do Bugio

 

 

Vista panorâmica de Viana do Castelo

publicado por dolphin às 17:42
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28
Dez 07

DOCA SECA ENG. DUARTE PACHECO

 

 

Lápide existente no lado poente da doca seca Eng. Duarte Pacheco

 

Conforme ordem de serviço n.º 43  de 20 de Setembro de 1888, transcrita no Livro de Ordens do Capitão do Porto para os Pilotos:

" Tendo o Governo de Sua Majestade por decreto de 6  de Agosto último, mandado abrir concurso, cujo prazo termina no dia 25 de Outubro próximo futuro, para a execução, por empreitada geral das seguintes obras para o melhoramento do porto e barra d'esta cidade:

1.º - Conclusão da docha e canal.

2.º - Continuação do caes do Fortim à lage do Bugio.

3.º - Conclusão do caes do campo da Feira.

4.º - Construção do caes de S. Bento.

5.º - Conclusão da parede regularizadora da margem sul.

6.º- Construção de um muro de abrigo ao sudoeste do ancoradouro.

7.º -Quebramento e extracção da rocha do fundo do rio junto ao caes exterior do canal da doca e precisando eu, como autoridade marítima d'este porto, informar S. Ex.ª o ministro da Marinha, se as sobreditas obras poderão por qualquer forma embaraçar ou difficultar a entrada e sahída  dos navios, tanto d'aquelles que demandam o ancoradouro do Cabedello, como os que se detinarem à docka d'abrigo.

O senhor Piloto-mór da barra, consultando os pilotos da corporação sob as suas ordens, informe com urgencia para esta repartição tudo o que se lhe offerecer relativamente às obras projectadas, sua utilidade e inconvenientes para a entrada e sahída de navios. O senhor Piloto-mór terá sobretudo em vista, na informação que der, os dois pontos abaixo designados:

1.º - Qual a utilidade ou inconvenientes da construção do caes do Fortim à lage do Bugio.

2.º - Se o espaço comprehendido entre a boca do canal da docka e o Bugio, poderá ser considerado como ante porto, e se os navios poderão n'aquelle espaço ancorar e esperar com segurança a entrada na docka d'abrigo.

Capitania do porto de Viana do Castello 20  de Setembro de 1888. (a) Andrade e Sousa - Capitão do Porto."

 

Metade da porta da doca seca Eng. Duarte Pacheco (lado Norte)

 

 

Mecanismo manual de abertura/fecho da porta da doca seca (lado Sul)

 

O Decreto Real de 6 de Agosto de 1888 acima transcrito, no ponto 1.º considerava a conclusão  do canal e da doca. Esta, segundo refere Mário Gonçalves Fernandes, no livro - Viana do Castelo a consolidação de uma cidade (1855-1926), [só em 1904 depois de vários contratempos provocados por projectos imprevidentes e problemas financeiros (Adolfo LOUREIRO, 1904, vol.1, pp. 104-108), terminariam as obras mais demoradas de todas as projectadas para o melhoramento do porto de Viana, com a conclusão da doca da Dízima que se havia iniciado em 1860]

Com a abertura de um novo canal pelo norte deste na década de 1940, segundo Figueiredo da GUERRA(1923, p.26), a segunda fase, que ampliou a doca da Dízima até às proximidades do Forte de S. Tiago da Barra, começou a ser projectada nos anos vinte do Sec.XX; contudo, apenas seria concluída na década de 1940(Américo COSTA, 1949,p. 359).

Depois da abertura do canal da eclusa de acesso à doca de Flutuação - assim chamada por permitir os navios flutuar em qualquer condição de maré sem assentar no fundo - nos anos quarenta do Séc. XX, o antigo canal foi transformado em doca seca com o nome de Eng. Duarte Pacheco.

 

 

A antiga entrada para a doca transformada em doca seca eng. Duarte Pacheco

 

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo constituídos em 1944 arrendaram à J.A.P.N. a doca seca Eng. Duarte Pacheco, tendo sido aí que iniciaram os primeiros trabalhos de reparação em 1945 aos lugres motor Rio Lima, Santa Maria Manuela, Santa Luzia e Vianense. Mais tarde, em 1957, renovaram o arrendamento pelo período de 30 anos, tendo instalado novas oficinas, sendo a primeira a marcenaria.

Esta empresa manteve em actividade a doca seca até à década de noventa do Séc. XX, altura em que a entregou de novo à Junta Autónoma que autorizou o Clube de Vela de Viana do Castelo a instalar-se nas antigas oficinas. 

 

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27
Dez 07

 

"MOIRÕES" DA TORNADA

 

Ponta da Tornada situada no extremo Oeste do antigo Dique do Cabedelo

 

 

Moirão( cabeço) do antigo Dique do Cabedelo

 

Segundo Mário Gonçalves Fernandes no livro -  Viana do Castelo a consolidação de uma cidade(1855-1926) -  [Até 1860 efectuar-se-ia o "quebramento de alguns penedos que dificultavam a entrada da barra" ( Eusébio COELHO, 1861, p.91) e a construção do Dique do Cabedelo e ...]

 

Vista panorâmica de Viana com os cais, o da direita - Bugio, o do centro - Fortim e o da esquerda - Cabedelo

 

Este cais ou dique do Cabedelo remonta aos anos sessenta do século dezanove, não sei se os cabeços  ou moirões são da mesma época, de qualquer forma aqui fica o apontamento.

 

 

Entrada da barra depois das obras concluídas na decada de 40 do Sec.XX

publicado por dolphin às 19:47
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26
Dez 07

" AGOA DE CIMA"

 

Antes da regularização do caudal do rio Lima, eram frequentes as cheias, como esta que junto à foz subiu 5,030 metros acima da superfície média das águas (zero hidrográfico).

A bacia do rio Lima que nasce em Espanha na serra de S. Mamede, estende-se por uma zona montanhosa onde se situam as serras da Peneda, Soajo e Gerês com vales profundos onde correm muitos rios e ribeiros caudalosos no Inverno em consequência da elevada pluviosidade que ocorre nessa época do ano.

A barragem do Lindoso e mais tarde a barragem de Touvedo vieram regularizar os caudais abundantes do rio Lima nos meses de Inverno, evitando as perturbações que as cheias causavam às populações ribeirinhas - apesar de benéficas para a agricultura - e também os contratempos à navegação.

 

 

Placa colocada na parede sul das oficinas da Doca Engenheiro Duarte Pacheco

 

No mesmo ano em que ocorreu esta cheia, no livro de consultas dos Pilotos da Barra pode ler-se a consulta que fez o senhor Piloto-mór: " O senhor Piloto-mór consultou com os seus súbditos a fazer signal de retirar, e juntamente quatro tiros de peça ao hiate português denominado Dous Irmaos, que commeteu a barra, a todo o risco, o motivo porque agoa de cima era muita, e não se podia vencer a corrente, o qual naufragou escapando, digo salvando-se a tripulação, e por isto ser verdade se mandou passar que assigno."

Vianna 12 de Fevº de 1866

Por esta descrição se infere das dificuldades que os práticos da barra tinham na entrada dos veleiros - iates, escunas, chalupas, lugres, palhabotes e brigues - que habitualmente demandavam o porto de Viana.

publicado por dolphin às 22:56
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22
Dez 07

 

Preparativos para a saída das primeiras construções dos ENVC

 

 

Saída da doca seca n.º2 do Arrastão-lateral "Senhora das Candeias" (Const. N.º 2)

 

 

O "Senhor dos Mareantes" (Const. N.º 1) depois de sair da doca n.º 1

 

 

O "Senhor dos Mareantes" rumo à Doca Comercial

 

 

A Const. N.º 3 dos ENVC o "São Gonçalinho" a sair da doca n.º 1

 

Estes três navios foram entregues em 1948, os dois primeiros à Empresa de Pesca de Viana (EPV) e o último à Empresa de Pesca de Aveiro (EPA)  e destinavam-se à pesca do arrasto do bacalhau.

Os três navios foram construídos com base no mesmo projecto e apresentavam as seguintes características:

 

TIPO : ARRASTÃO  LATERAL PARA A PESCA DO BACALHAU

COMPRIMENTO TOTAL : 71,62 m

COMPRIMENTO ENTRE P.P. : 65,90 m

BOCA : 11,05 m

PONTAL : 5,03 m

CAPACIDADE DE CARGA : 1350 m3

TONELAGEM BRUTA : 1266 tons.

TONELAGEM LÍQUIDA : 628 tons.

MÁQUINA : 1100 BHP - 275 RPM - N.V. VERKSPOOR - 1947

CUSTO : 13.500 contos

 

Os três navios foram construídos de forma a processarem o pescado salgado, mais tarde e com a procura crescente do peixe congelado e como forma de aproveitamento da maior parte das espécies (até aí deitadas fora) e também por imposições de quotas de pescado, foram transformados em navios congeladores.

Dos navios da EPV o primeiro a operar a transformação foi o Senhora das Candeias em 1977 e o Senhor dos Mareantes em 1980.

Ambos navegaram até 1991, ano em que foram abatidos. 

 

 

 

publicado por dolphin às 23:57
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