SALVAMENTO DAS BAGAGENS E CARGA
No dia seguinte ao naufrágio do “México” entraram a barra de Viana os rebocadores “Galgo” e “Flávio” com o encargo de salvarem as bagagens dos passageiros e a carga, e não o navio como seria de esperar, o que se depreende dos protestos de mar efectuados pelo capitão.
O capitão do “México” D. Julian Oslé considerou perdido o navio, razão porque fez três protestos de mar, tendo no último, na presença do cônsul de Espanha sr. António São Miguel declarado, ”ter empregado todos os esforços para salvar o navio; porém como o considerava perdido, pedia que se fizesse a respectiva informação ao sr.Bretel, agente da Companhia de Seguros “ La Foncier”, para tomar conta d’elle. Este cavalheiro, por considerar que o navio ainda podia salvar-se, não tomou conta.
O sr. Oslé reiterou o seu protesto e fez o abandono.”
Apesar das autoridades marítimas, aduaneiras e fiscais terem tomado todas as medidas possíveis para evitar a pilhagem, quer de bordo quer dos objectos que deram à praia, não impediu que alguns casos fortuitos acontecessem, como foi o caso da lancha poveira “Fé em Deus”, cujo arrais e tripulantes foram presos por suspeita de desviarem grande quantidade de malas pertencentes aos passageiros do “México”. De facto esta lancha carregou alguma bagagem que depois passou para outras embarcações que a seguir as conduziram para a praia. As contradições flagrantes em que caíram alguns tripulantes da lancha levou a que as autoridades os prendessem por suspeita.
As operações de salvamento da carga e bagagens prolongaram-se por bastante tempo por motivo da localização do navio e da dificuldade das embarcações acostarem. Um mês depois do sinistro, ainda a “A Aurora do Lima” noticiava em listagem fornecida, graças à “amabilidade de um nosso presadissimo amigo”, os objectos retirados e encontrados do vapor “México”.
Curiosa a referência à recuperação dos paramentos religiosos da capela do navio, quando se julgava que tinham sido roubados da praia para onde tinham sido transportados (outra vez os boatos).
O café que foi possível recuperar, cerca de 75 sacas, foram exportadas por ordem dos carregadores, enquanto os demais salvados ficaram nos armazéns da Alfândega, à guarda da mesma, esperando instrucções da Companhia Transatlântica sobre a venda ou re-exportação.
Em consequência dos roubos ocorridos nas bagagens e na carga, e participados às autoridades judiciais, o capitão do navio “México” D. Julian Oslé, teve de permanecer em Viana para prestar declarações no tribunal da comarca desta cidade, enquanto que os oficiais e restante tripulação que aqui haviam permanecido para ultimar o processo se retiravam para Espanha.
No dia 23/07/1901 o casco do “México” partia em três, obrigando a companhia salvadora a retirar o pessoal que ali trabalhava.
Fonte: “A Aurora do Lima”
Viana do Castelo, 2009-12-27
Manuel de Oliveira Martins