Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

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Dez 09

SALVAMENTO DAS BAGAGENS E CARGA

No dia seguinte ao naufrágio do “México” entraram a barra de Viana os rebocadores “Galgo” e “Flávio” com o encargo de salvarem as bagagens dos passageiros e a carga, e não o navio como seria de esperar, o que se depreende dos protestos de mar efectuados pelo capitão.

O capitão do “México” D. Julian Oslé considerou perdido o navio, razão porque fez três protestos de mar, tendo no último, na presença do cônsul de Espanha sr. António São Miguel declarado,  ”ter empregado todos os esforços para salvar o navio; porém como o considerava perdido, pedia que se fizesse  a respectiva informação ao sr.Bretel, agente da Companhia de Seguros “ La Foncier”, para tomar conta d’elle. Este cavalheiro, por considerar que o navio ainda podia salvar-se, não tomou conta.

O sr. Oslé reiterou o seu protesto e fez o abandono.”

Apesar das autoridades marítimas, aduaneiras e fiscais terem tomado todas as medidas possíveis para evitar a pilhagem, quer de bordo quer dos objectos que deram à praia, não impediu que alguns casos fortuitos acontecessem, como foi o caso da lancha poveira “Fé em Deus”, cujo arrais e tripulantes foram presos por suspeita de desviarem grande quantidade de malas pertencentes aos passageiros do “México”. De facto esta lancha carregou alguma bagagem que depois passou para outras embarcações  que a seguir as conduziram para a praia. As contradições flagrantes em que caíram alguns tripulantes da lancha levou a que as autoridades os prendessem por suspeita.

As operações de salvamento da carga e bagagens prolongaram-se por bastante tempo por motivo da localização do navio e da dificuldade das embarcações acostarem. Um mês depois do sinistro, ainda a “A Aurora do Lima” noticiava em listagem fornecida,  graças à “amabilidade de um nosso presadissimo amigo”, os objectos retirados e encontrados do vapor “México”.

Curiosa a referência à recuperação dos paramentos religiosos da capela do navio, quando se julgava que tinham sido roubados da praia para onde tinham sido transportados (outra vez os boatos).

O café que foi possível recuperar, cerca de 75 sacas, foram exportadas por ordem dos carregadores, enquanto os demais salvados ficaram nos armazéns da Alfândega, à guarda da mesma, esperando instrucções da Companhia Transatlântica sobre a venda ou re-exportação.

Em consequência dos roubos ocorridos nas bagagens e na carga, e participados às autoridades judiciais, o capitão do navio “México” D. Julian Oslé, teve de permanecer em Viana  para prestar declarações no tribunal da comarca desta cidade, enquanto que os oficiais e restante tripulação que aqui haviam permanecido para ultimar o processo se retiravam para Espanha.

No dia 23/07/1901 o casco do “México” partia em três, obrigando a companhia salvadora a retirar o pessoal que ali trabalhava.

Fonte: “A Aurora do Lima”

Viana do Castelo, 2009-12-27

Manuel de Oliveira Martins

 

publicado por dolphin às 15:49

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