Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

20
Dez 13

 

 

No dia 10-07-1948 era assim a multidão a assistir à cerimónia de flutuação dos três primeiros navios construídos nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo - Senhor dos Mareantes e Senhora das Candeias, para a Empresa de Pesca de Viana, e São Gonçalinho, para a Empresa de Pesca de Aveiro.

Neste ano celebrava-se o centenário da elevação de Viana a cidade e este evento foi integrado nas comemorações. Neste mesmo ano outro acontecimento viria a marcar significativamente a vida marítima de Viana do Castelo - O naufrágio do lugre bacalhoeiro «Gaspar» da Sociedade Novas Pescarias, que assim se via privada de navios e impossibilitada de continuar a atividade. Viana ficava mais pobre por este motivo, mas mais engrandecida pela esperança que depositava nos recentemente formados Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

Passados quase 70 anos o panorama social, económico-financeiro e visual é desolador. Há estaleiros mas não há navios. Há homens mas não há trabalho. Há encomendas mas não há vontade de as por em marcha. Há potencial para avançar mas não há querer.

O dia 16-12-2013 ficará célebre na história da cidade de Viana do Castelo, pela saída do último navio construído nos maiores estaleiros de construção naval ainda existentes em Portugal. Quem construirá os navios que o país vai precisar no futuro para gerir o gigantesco espaço marítimo que detém? Vão ser precisos navios oceanográficos e outros tecnológicamente sofisticados para prospetar e operar as enormes riquezas contidas dentro da área geográfica da ZEE, uma das maiores do mundo, com uma área equivalente a 19 vezes a área continental e com possibilidades de ser aumentada para 40 vezes, ou seja para cerca de 4.000.000 Km2.

 

 

 

A construção naval tem de ser dirigida para estas novas áreas oceânicas, com tecnologias inovadoras, mas também para atender aos mercados dos PALOP's, com necessidades de defesa emergentes. Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, não podem desperdiçar esta oportunidade de se afirmarem neste mercado cobiçado por outras nações europeias e não só. É urgente começar já a preparar-se para os desafios que se vislumbram a médio prazo no futuro. É necessário reformar o setor da construção naval em Portugal, dando formação aos quadros e pessoal numa perspetiva tecnológicamente mais evoluída e virada para novos tipos de embarcações que virão a ser necessárias para atender os desafios que esta vasta área oceânica vai exigir. Por outro lado, gradualmente, e enquanto se vai modernizando e preparando para dar andamento às solicitações que o mercado vai exigir, existe o mercado dos países de expressão portuguesa, dentre os quais se destaca Angola e Moçambique, com vastas extensões costeiras e áreas enormes de ZEE's, que necessitam de ser vigiadas e defendidas da cobiça internacional pelas potencialidades geológicas, piscícolas e económicas que possuem.

O horizonte não está assim tão carregado de nuvens que se avizinhe uma tempestade que destrua tudo. Algum temporal terá de ser suportado para reconverter tecnológicamente o setor e adaptá-lo aos novos desafios, tornando-o competitivo e rentável. Alguns trabalhadores terão de ser «sacrificados» para atingir o nível e desiderato ajustado à realidade momentânea, por forma a manter um suporte necessário para competir no mercado. Essa «sangria», necessária ao equilíbrio competitivo, não pode em circunstância alguma ser feita com prejuízo para os trabalhadores. Deve ser efetuado um estudo caso a caso, pondo sempre acima de tudo o fator humano e sócio-económico de cada agregado dependente do trabalhador em análise.

 

 

De há vinte anos para cá os estaleiros teem dado prejuízo, que tem sido suportado pelo erário público (por todos nós). Este cenário, mais tarde ou mais cedo tinha que ter um fim, era insustentável e impeditivo do crescimento e reconversão do tecido produtivo. Só pessoas pouco escrupulosas e sem a noção da realidade o podiam defender. 

É necessário encarar a situação com fé, mas sobretudo com firmeza. Se não acreditarmos nem vale a pena começar. Os antecessores, como João Alves Cerqueira, Vasco d'Orey, Jacques de Lacerda, Luis Lacerda, acreditaram e venceram, apesar da situação económico-financeira da empresa estar em certos casos e em certas alturas muito difícil. A convicção e perseverança (firmeza) com que enfrentaram as crises foram determinantes para as ultrapassarem.

Exige-se que os governantes dotem a empresa dos meios necessários à reestruturação do setor, fiscalizem as ações daqueles que detem a missão de gerir, sem intervir, mas atuando sempre que se verifique qualquer desvio que ponha em perigo a prossecução dos objetivos traçados. Aos trabalhadores exige-se que cumpram a sua missão e zelem pelos interesses da empresa, e a defendam em todas as circunstâncias(legais) dignificando a sua imagem, trabalhando por amor à causa, que o mesmo é dizer, dignificando e lutando pela sustentabilidade do seu posto de trabalho, auferindo um salário justo e equilibrado dentro do horizonte da empresa.

O mundo está em mudança. O homem é o agente dessa mudança. Cabe a cada um de nós contribuir duma forma séria, honesta e empenhada para tornar este mundo melhor, mais justo, mais igual, menos desiquilibrado, onde apeteça viver.

publicado por dolphin às 21:32

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