Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

25
Ago 17

É o título de um livro de minha autoria, que foi lançado no passado dia 15 de julho.

Curiosamente, este ano, os moradores da Rua Frei Bartolomeu dos Mártires (antiga rua do Leite), resolveram enfeitar a rua por ocasião da Romaria da Senhora da Agonia, com motivos alusivos aos naufrágios mais notórios que ocorreram no século XX em que intervieram marítimos do bairro da Ribeira de Viana, tão martirizada foi nesse século.

Registei em imagens alguns desses retábulos representativos dessas tragédias, com que os atuais moradores quiseram homenagear os seus mortos e que pretendem simbolizar os estados de alma das gentes que viveram esses acontecimentos funestos.

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O farol símbolo da orientação e apoio que dá aos homens do mar.

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A Senhora da Agonia a quem imploram em momentos de crise.

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Cristo pregado na cruz, outro símbolo da fé cristã, que carateriza as gentes do mar e a ele ligadas.

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Frei Bartolomeu dos Mártires, o santo de Viana e dos marítimos que a ele imploravam ainda em vida para acalmar o mar.

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Imagem do Sagrado Coração de Jesus, outra devoção enraizada nas martirizadas gentes da Ribeira.

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É o nome de um barco de pesca em que morreram sete infelizes pescadores, cuja memória perdorou por muitos anos até que outra mais grave veio fazer esquecer.

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Em memória dos que pereceram no naufrágio do salva-vidas «Ferreira do Amaral», quando assistia na entrada os barcos de pesca. Foram eles o mestre César e os marinheiros Mário Marques da Guia e António de Passos Pacheco, tendo-se salvado únicamente o motorista João Alves Viana.

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A tragédia do rebocador «Rio Vez», que trazia de Leixões um batelão a reboque, submergiu na barra, levando com ele para o fundo os seus oito tripulantes, salvando-se apenas os três tripulantes do batelão que entretanto deu à praia.

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Este barco da Ribeira de Viana, governado pelo arrais José Verde Gonçalves Lomba, foi vítima de abalroamento provocado pelo navio mercante norueguês «Bayard» em que pereceram 5 tripulantes, entre eles o arrais, salvando-se os restantes seis com a ajuda do barco «Virgem das Graças» que os trouxe para Viana.

Muitos outros foram vítimas de naufrágios. No livro com o título acima, que poderão encontrar na loja do CER no largo do Instituto Histórico do Minho, ao lado da Sé de Viana ou através dos endereços estudosregionais@sapo.pt ou livraria@cer.pt , encontrarão outros naufrágios e mais pormenores sobre estes acontecimentos trágicos ocorridos nos séculos XIX e XX no «MAR DE VIANA».

 

publicado por dolphin às 16:04

13
Ago 17


No dia 15 de julho de 2017, apresentei o meu terceiro livro sobre temas marítimos, no Centro de Mar, situado na face de ré do navio Gil Eannes.

O ato foi muito concorrido e contou com a presença do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo.

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 A apresentação abriu com dois trechos musicais brilhantemente interpretados ao violino pela Dra. Beatriz Barbosa, maestrina do Grupo Coral da Academia Sénior do Centro de Estudos Regionais, calorosamente aplaudida.

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 Seguidamente um grupo de três senhoras interpretaram a sátira medieval – As lavadeiras – da autoria de José Carlos Rego Meira, com algumas referências alusivas ao mar e muito a propósito, muito saudadas pelo público presente.

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 O Dr. José Carlos Loureiro, Presidente do Centro de Estudos Regionais e autor do prefácio, apresentou o livro Naufrágios no «Mar de Viana», saudando o Sr. Presidente da Câmara, o autor e o público presente, fazendo uma breve resenha da obra ora apresentada.

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 Seguiu-se na palavra o autor que leu o texto seguinte:

 

Quando há 43 anos, nos mares gelados da Terra Nova, naufraguei com o penúltimo navio da pesca à linha – o São Jorge da praça de Aveiro, o último, o Novos Mares, ficou para nos salvar – jamais imaginei que um dia tivesse coragem para escrever sobre naufrágios, como aconteceu com este livro que trago à estampa para memória futura, mas, sobretudo, para homenagear todos aqueles que foram vítimas de naufrágios, especialmente os familiares dos náufragos que pereceram.

O sofrimento pela perda de alguém que nos é muito querido, que brota da sensibilidade de cada um, é enorme. A perda do irmão, do pai, do marido, do filho, do amigo é inqualificável.

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 Uma mãe que perde um filho que trouxe no ventre durante 9 meses, saiu das suas entranhas, acarinhou e amamentou no berço, deve ter uma dor inimaginável, para mais quando o cadáver teima em não aparecer como acontece na maioria dos casos. Outras vezes, nem sequer aparece e, se aparece, vem irreconhecível. É um penar dias e dias infindáveis.

Uma esposa que tinha no marido o amor da sua vida e o sustento dos seus filhos, fica destroçada e sente-se sem forças para lutar pela sua sobrevivência e dos seus filhotes, algumas vezes ainda no ventre, outras, recém-nascidos.

Um pai, que tantas esperanças depositou no filho, dele vir a ser um continuador da profissão e, quem sabe, melhor ainda do que ele, fica inconsolável e revoltado com esse mar impiedoso e traiçoeiro que lhe tragou o filho ainda jovem.

O irmão das brincadeiras de criança, das partilhas e confidências mais íntimas da juventude, dos amores que se tem vergonha de contar aos pais. Aquele irmão que estava sempre presente para o melhor e para o pior. Esse irmão sente-se só, abandonado, sem ânimo para prosseguir e com medo do mesmo lhe vir a suceder.

O amigo, o verdadeiro, que ia beber um copo à taberna da esquina (ao Tone Bento, à Zefa, e a tantas outras tabernas e cafés que existem por esse bairro da Ribeira de Viana), ficou sem companheiro para partilhar as anedotas e discutir os últimos resultados da bola, ficou sorumbático e mudo, sem conseguir articular palavra, incrédulo, a pensar na sorte que está subjacente ao pescador, ao marinheiro, ao maquinista, ao imediato, ao capitão, a todos aqueles que andam por sobre as águas do mar.

Só para terem uma ideia das tragédias que na década de 60 do século passado abalaram a martirizada comunidade da Ribeira de Viana, vou enumerar apenas as 8 mais trágicas:

Em 1960, ainda não esquecida a tragédia que no ano anterior tinha vitimado 7 tripulantes do barco de pesca «Arrogante», deu-se o desastre do salva-vidas «Ferreira do Amaral» em que pereceu o mestre César e dois marinheiros durante a missão de salvamento. No ano de 1963 foi a tragédia do barco de pesca com o nome do Beato Frei Bartolomeu dos Mártires, que foi vítima de naufrágio ceifando a vida a 8 pescadores …anda a morte no mar… dizia o redator da «A Aurora do Lima». A meio da década, em 1965 outro acidente trágico acontecia na barra de Viana com o rebocador «Rio Vez», procedente de Leixões, com um batelão a reboque, morrendo todos os oito tripulantes, salvando-se apenas os três tripulantes do batelão – temos a honra de termos hoje aqui presente um desses sobreviventes, o sr. João Trindade Lopes. Ainda em 1965 deu-se o afundamento do barco de pesca «Pérola de Peniche» que levou consigo os três tripulantes. Dois anos depois, em 1967, deu-se a tragédia da Amorosa que apanhou de surpresa grande número de pessoas e crianças que se encontravam naquela praia. Ao todo 8 desaparecidos nas ondas, 8 receberam tratamento hospitalar tendo 4 ficado internados e outros 4 receberam tratamento. No ano seguinte, a Ribeira de Viana voltava a ficar orfã de mais 5 tripulantes do barco de pesca «Jorge Jesus» - temos entre nós um sobrevivente, o Jober que escapou às garras do oceano, como ele descreve no último capítulo do livro, e também o Graciano por ter sido mandrião e ficado a dormir. Ainda não tinha terminado a década e no ano de 1969, não foi um, mas dois acidentes. O primeiro foi o afundamento do navio espanhol «Hermanos Manterola», a 3 milhas do Castelo do Neiva que vitimou 3 tripulantes; o segundo foi a morte de um pescador do barco «Nova Rainha Santa Isabel» na barra de Viana.

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Foi uma década fatídica que registou 26 acidentes, em 8 dos quais tiveram morte trágica 39 pessoas. Felizmente que nos outros 18 sinistros não houve vítimas a registar.

Confinados a este recanto da Europa, os portugueses sempre tiveram o mar como evasão e destino. Ao longo dos séculos pereceram a bordo de navios portugueses, centenas, milhares de homens que tiveram como tumba o mar, desde os descobrimentos até aos nossos dias.

É possível que haja mais, mas só conheço uma localidade da costa portuguesa onde existe um monumento que perpetua a memória daqueles que o mar tragou na sua fúria assassina – Caxinas em Vila do Conde.

Viana, terra de marinheiros e pescadores, tem na sua história trágico-marítima muitas centenas, senão milhares de náufragos. Deixo aqui um apelo à autarquia para numa próxima oportunidade ponderar erigir um monumento que simbolize e perpetue a memória de todos aqueles que o mar vitimou.

PORQUÊ ESTE LIVRO?

Quando há 8 anos atrás fazia pesquisas para o livro «Pilotos da barra de Viana – 100 anos de história (1858-1958)» no jornal «A Aurora do Lima», deparei com inúmeras notícias de naufrágios ocorridos na costa Norte de Portugal. Comecei, então, por prestar mais atenção aos acontecimentos marítimos em geral e não só aquilo que buscava encontrar sobre os pilotos da barra.

Desde 1855, (ano do nascimento deste prestigioso órgão de informação regional, que se tornou na maior fonte histórica de Viana até aos dias de hoje, que é necessário preservar), colhi vasta informação que me permitiu cruzar com outras fontes, para obter os trabalhos que tenho trazido ao vosso conhecimento.

O facto de ter sido náufrago (já lá vão 43 anos) constituiu também um impulso para escrever sobre naufrágios e trazer a lume momentos de tragédia e infortúnio vividos pelos sobreviventes e seus familiares, tantas vezes esquecidos e ignorados daqueles que desconhecem a vida árdua do marítimo, em confronto com forças tão adversas e incontroláveis.

Acresce ainda o facto de ser do meio e aperceber-me que não existe quem escreva sobre esta classe tão desprotegida e abandonada à sua sorte. Por outro lado, era necessário aproveitar os depoimentos daqueles que sofreram acidentes no mar e que ainda aí estão para os contar, como o fizeram com agrado neste livro e que fica para memória futura. Para eles vai o meu agradecimento pela paciência que tiveram em me aturar.

 

O livro é uma compilação de naufrágios e acidentes ocorridos ao longo de mais de 150 anos na costa Norte de Portugal, na zona geográfica que vai da Foz do Rio Minho aos Cavalos de Fão, um pouco a Sul da Foz do Cávado, a que os pescadores chamam de «Mar de Viana», por ser a área de autonomia das suas embarcações em tempos mais recuados, quando a navegação era à vela ou a remos, progressivamente alargada com a introdução do motor às embarcações.

Não se trata exclusivamente de sinistros ocorridos com embarcações de pesca, embora grande percentagem lhe seja devida, mas também à navegação comercial que passa ao longo da costa ou que vem em demanda dos portos de Viana e Leixões e durante a aproximação a terra encontraram baixios ou forças adversas (vento e mar) que os traíram e motivaram o naufrágio.

Este é um resumo muito sintético do livro que hoje vos apresentamos. Ele aí está. Desfrutem-no.

Resta-me agora agradecer: - Ao CER na pessoa do seu Presidente Dr. José Carlos Loureiro que desde a primeira hora apoiou e impulsionou a edição deste livro; à CMVCastelo, na pessoa do Sr. Presidente, Eng.º José Maria Costa que estimulou e patrocinou esta edição; aos náufragos sobreviventes cujos depoimentos muito engrandeceram esta monografia; aos atores, declamadores, encenadores, músicos e outros que animaram esta ato; ao dr. Rui Carvalho e sua equipa que projetaram e executaram o design gráfico deste livro; por último, e mais uma vez à Câmara Municipal, na pessoa da Eng.ª Leonor Cruz, responsável pelo Centro de Mar e sua equipa, pela forma como apoiaram esta iniciativa desde o primeiro momento, pondo ao dispor os meios necessários para que tudo corresse bem e, naturalmente grato a todos vós pela vossa presença.

O meu muito obrigado a todos.

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 Depois da minha intervenção e antes do encerramento pelo Sr. Presidente da C.M.V. do Castelo, assistimos a um momento de poesia, com duas poesias belissimamente declamadas pelo amigo Sr. Manuel Alberto Folgado da Silva - um soneto de seu pai Baptista da Silva e outra de Miguel Torga, acompanhado à guitarra clássica pelo multifacetado Sr. Rego Meira.

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O Sr. Presidente da Câmara encerrou o evento agradecendo ao autor o ter abordado um tema tão pungente e pesaroso, mas real na vida das comunidades marítimas.

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 O livro foi editado pelo CER – Centro de Estudos Regionais e encontra-se à venda na sede – Largo do Instituto Histórico do Minho, ao lado da Matriz de Viana, aberta todos os dias das 14:00 às 17:00 e às 3.ª e 6.ª das 09:00 às 12:00. Também pode ser pedido on-line através dos mails:  estudosregionais@sapo.pt ou geral@cer.pt ou ainda livraria@cer.pt  

 

 

publicado por dolphin às 12:27

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