Recordo com emoção os momentos marcantes da minha meninice que fizeram de mim muito do que hoje sou. Em especial, lembro-me da entrada da Primavera, pela luminosidade, os dias mais longos, mais quentes, o desabrochar da natureza adormecida de longos meses de hibernação.
Um dia que ficou gravado na minha memória foi o dia da àrvore pelo simbolismo que incutia nos estudantes, fomentando dessa forma a preservação e continuação da natureza. Eu tinha os meus oito anitos quando assisti e participei pela primeira vez, na minha escola primária à festa do dia da àrvore.
A senhora professora fazia deste dia, um dia muito especial, convidava os pais dos alunos para assistirem ao evento, um aluno lia um texto previamente elaborado relativo à efeméride e procedia-se à plantação da àrvore no recreio da escola em local escolhido e preparado, com a cova aberta no dia anterior. Todos os alunos participavam, colocando uma pá de terra à volta do tronco da jovem àrvoresinha, logo após a senhora professora dar o exemplo e cantava-se uma canção que começava assim: " Quem planta uma àrvore enriquece, ó terra mãe portuguesa..." e por aí adiante.
Este acontecimento marcou para todo o sempre a minha acção futura para com a natureza e as questões ambientais.
Com a morte prematura do meu pai, herdei alguns terrenos de pinhal que, por infortúnio meu e da natureza foram devastados, por três vezes em trinta anos, por esse flagelo que dizima tudo por onde passa e que dá pelo nome de fogo.
De todas as vezes reflorestei esses espaços ardidos, procurando recuperar as espécies queimadas e perdidas, substituindo-as pelas mesmas e por outras espécies menos vulneráveis ao fogo, como é o caso dos castanheiros e carvalhos.
Ao longo da minha vida tenho plantado inúmeras àrvores de fruto e não só, que me tem dado grande satisfação por contribuir para a preservação e protecção da natureza. Este ano o meu filho convidou-me para o ajudar na plantação de diversas espécies de frutíferas na quinta e eu acedi com todo o entusiasmo, diferindo outras actividades que tinha em agenda para outra ocasião.Eu, ele,a namorada e a minha mulher, plantamos em três dias trezentas e setenta e quatro àrvores de fruto na quinta, sinónimo de repovoamento da quinta por motivo do abate de outras tantas videiras, que por opção económica insustentável, apesar do constrangimento que isso causou a todos nós, por afeição, sentimentalismo e perda irreparável, tiveram que ser ceifadas para sempre.
Hoje, dia vinte e quatro de Março, enquanto plantavamos essas àrvores o meu filho disse-me que ainda tinha de plantar mais uma àrvore em Viana do Castelo, por isso tinhamos de suspender o plantio por hoje para poder honrar esse compromisso que lhe dava imenso prazer estar presente e participar nesse acto simbólico.
Tratava-se de facto de um evento simbólico mas marcante porque patrocinado pelo maior organismo internacional, a ONU. A UNEP( Programa Ambiental das Nações Unidas) escolheu Viana do Castelo, entre outros locais do mundo para lançar uma acção internacional com a designação "Plant For the Planet: a one billion trees planting campaign", com o objectivo de sensibilizar e envolver todos a nível mundial na plantação de àrvores.
A Câmara Municipal, a Valimar, a Surfride Foundation Europe, o Surf Clube de Viana aderiram a esta iniciativa da Unep, aqui representada curiosamente por um Vianês, o Dr. Miguel Alpuim Graça que conjuntamente com a Dra. Flora Silva, vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo, descerraram uma placa alusiva ao acto, após a àrvore ter sido plantada por todos os presentes incluíndo o meu filho, o que me encheu de orgulho e de emoção por lhe ter transmitido essa herança de continuação de preservação da espécie vegetal tão maltratada pelo ser humano últimamente.
Assisti à plantação desta àrvore, na Pousada da Juventude, frente a outra àrvore simbólica, a àrvore da Amizade, emocionado por ver os jovens a corresponder à chamada sempre presente de preservação da natureza que o mesmo é dizer, preservação da humanidade.