A costa de Angola
Estava ansioso por conhecer Luanda. Não só pela beleza natural de que goza fama como também porque já tinham passado muitos dias desde que deixamos o Funchal e, para um marinheiro de primeira viagem, começava a tornar-se cansativa a vida a bordo. Precisava esticar as pernas, ver gente...
Quando por volta do meio dia o criado me veio chamar para almoçar, já eu estava a pé no tombadilho das baleeiras por ré do meu camarote que ficava ao lado do telegrafista junto à TSF. Preferi este camarote, embora me fosse dado à escolha o do 3º piloto que ficava por baixo da chaminé do navio, mas o Orlando avisou-me que era muito quente e como vínhamos para África era boa escolha o do praticante que dava para o tombadilho das baleeiras.
O navio navegava sereno junto à costa Angolana depois de passarmos o Ambriz , rumo a Luanda onde devíamos chegar a meio da tarde.
Vista do mar a ilha do Mussulo , com as palmeiras e coqueiros verdes por sobre a areia branca da praia contrastando com o ocre da falésia por cima, parecia um cenário de miragem de oásis ameno e acolhedor ao fim duma extenuante caminhada pelo deserto. Daí a pouco entravamos na baía de Luanda, com a cidade por bombordo e a ilha do Mussulo por estibordo.
Estava finalmente na bela Luanda com a extensa marginal ornada de coqueiros, reflectindo nas águas calmas da baia o casario baixo, entrecortado de arvoredo, destacando-se o "mamarracho" do edifício do BCA .
Foi uma estadia memorável que passei nesta bela e acolhedora cidade e na aprazível e encantadora ilha do Mussulo , mas cedo acabou a boa vida, tínhamos de continuar a viagem ao longo da costa angolana.
Depois de Luanda seguiam-se os portos de Porto Amboim e Novo Redondo, sem cais de atracação onde descarregávamos para batelões alguma carga e começávamos a carregar café para a Metrópole.
Num dia de folga, aproveitei uma ida a terra em Porto Amboim levar umas cartas ao correio local para na volta ir à praia tomar um banho nas maravilhosas águas equatoriais dentro da área protegida dos tubarões que frequentemente visitam a praia deixando por vezes a sua marca mortífera.
Lobito foi o porto seguinte. Tem uma configuração geográfica muito semelhante a Luanda, com a Restinga a substituir a ilha do Mussulo , embora o porto e a cidade se situem no lado oposto a Luanda mas que em nada a desmerece em beleza. É um local inesquecível na minha rota marítima, porque foi lá que festejei os meus 22 anos com um sabor tropical inimaginável.
Moçâmedes - Praia da miragens
A princesa do Namibe - a bela Moçâmedes - era o porto seguinte onde iríamos descarregar o resto da carga oriunda da Metrópole. Esperava-nos uma estadia prolongada porque estava previsto o embarque dum grande carregamento de milho ensacado e a granel para Cabo Verde.
Aqui passei o Natal. O primeiro fora da família, do lar, do ambiente tradicional, num clima quente ao contrário do habitual em ambiente frio ao calor da lareira. Não soube a Natal. A nostalgia invadiu-me e senti a falta de tudo aquilo que fora habituado ao longo dos anos; do aconchego do lar e da família, das rabanadas e outras iguarias típicas desta época natalícia, , do frio e da neve.
Nesta primeira estadia em Moçâmedes não retenho boas recordações dignas de registo. Foi tudo muito desinsabido e desinteressante. Achei a cidade agreste e quente ao contrário daquilo que anos mais tarde vim a sentir.