O antigo navio hospital "GIL EANNES", actualmente atracado na doca comercial em Viana do Castelo, está a ser palco de filmagens com vista à realização do filme " ASSALTO AO SANTA MARIA" do realizador Francisco Manso .

Para o efeito foram efectuadas algumas obras de montagem de estruturas em contraplacado para tentar dar forma semelhante ao antigo paquete da Companhia Colonial de Navegação (CCN).

Em 1969 quando terminei o meu Curso Elementar de Pilotagem na Escola Náutica, como estava inscrito na C.C.N  há cerca de um ano, foi-me oferecido pelo director de pessoal, ingressar no Santa Maria como Praticante de Piloto, lugar que rejeitei por considerar ser um navio bastante "caro" para as minhas posses e necessidades no momento. Descodifico a palavra "caro" - era um navio que implicava a aquisição de muitas fardas e eu não tinha dinheiro para as comprar. Por outro lado, sendo um paquete, tinha muitas atracções e distracções e o que eu precisava na altura era ganhar dinheiro e aprender, e não gastar e divertir-me. Uma coisa me atraía, o navio fazia a carreira do Brasil e havia a possibilidade de visitar o meu avô que não conhecia e nem cheguei a conhecer. Adiei a ida para o Santa Maria para mais tarde quando estivesse melhor financeiramente e profissionalmente mais conhecedor.

A era dos paquetes estava a terminar e a minha vida tomou outros rumos e não foi possível embarcar no Santa Maria que entretanto foi vendido. Ficou uma certa nostalgia, aumentada pelo primeiro comandante do primeiro navio que andei - o Ganda - navio escola da companhia, que tinha sido anteriormente segundo comandante do Santa Maria.

A história da longa metragem que está a ser rodada, passa-se no início da década de sessenta(1961) quando se deu o assalto ao Santa Maria por um grupo de revolucionários portugueses e espanhóis,  capitaneados pelo comandante Henrique Galvão, para denunciarem o descontentamento geral aos regimes ditatoriais de Salazar e Franco.

Até 21 de Abril decorrerão as filmagens e brevemente poderemos assistir ao filme que tem no elenco  actores portugueses e espanhóis, tais como, Carlos Paulo, Pedro Cunha, Leonor Seixas, Vítor Norte, Alfonso Aigna, Christian Escudero, entre outros.

Já lá vai o tempo em que se construíam navios para a Marinha Mercante em estaleiros nacionais e estrangeiros, em simultâneo, porque a nossa capacidade de construção não permitia dar andamento às necessidades prementes que se faziam sentir nos anos sessenta do século passado.

Desse facto o Almanaque Bertrand do ano de 1961, através do jornalista Guerra Maio, dava conhecimento das recentes aquisições que as grandes companhias da época fizeram. A Sociedade Geral com a aquisição do Rita Maria, a Companhia Colonial de Navegação com a entrada em actividade do Lobito, construído em Viana do Castelo, e a encomenda do Infante D. Henrique, a Companhia Nacional de Navegação com a encomenda do Príncipe Perfeito, e ainda a Empresa Insulana de Navegação com a encomenda do paquete Funchal.

Eram de facto importantes aquisições para a Marinha Mercante e que tão bons frutos deram. De todos eles resta o Funchal. 

Lançamento à água do I. D. Henrique

Foi por acaso que me veio parar às mãos este exemplar do Almanaque Bertrand de 1959, tinha eu 12 anos, quando foi editado e ainda não tinha bem definido o meu futuro profissional, mas alguma coisa já me dizia que um dia a Marinha Mercante faria parte da minha vida.

Este exemplar veio conjuntamente com um conjunto de livros que alguém ofertou à Biblioteca do Centro Social e Paroquial de N. S. de Fátima em Viana do Castelo, onde habitualmente partilho o meu tempo, catalogando livros e fazendo a gestão da biblioteca.

Ao folhear o almanaque, surpreendeu-me este artigo sobre a Marinha Mercante e achei interessante publicá-lo no meu blog para lembrança daqueles que viveram estes acontecimentos e para comparação do estado actual da nossa Marinha Mercante.

Eborense - Construção n.º 23

São Tiago - Construção n.º 22  

Brava - Construção n.º 24

Shell Tagus - Construção n.º 29