Há dias, rebuscando nos meus apontamentos, descobri uma fotocópia do registo de uma escritura de sociedade e parceria que obtive no Arquivo Distrital de Viana, numa das minhas pesquisas sobre assuntos relacionados com o Porto de Viana do Castelo.
Em 22 de Maio de 1885 no escritório do tabelião João Caetano da Silva Campos, foi registada uma escritura de sociedade e parceria entre: - José Martins de Mattos, João Baptista Correia, Pedro Martins Branco, António da Costa Jácome e Camilo Vieira Ferrinho, capitão de navios e os outros negociantes da cidade de Viana do Castelo.
Esta sociedade detinha como propriedade um palhabote mercante denominado "Pimpão", surto no porto, o que significa que já estava construído, com a seguinte distribuição de quotas: - A cada um dos três primeiros signatários 1/4 parte do navio e a cada um dos dois últimos 1/8 parte do mesmo navio.
O contrato de sociedade e parceria regia-se pelas seguintes cláusulas: - 1.ª - Os lucros ou perdas resultantes da exploração do navio eram divididos em partes por todos os outorgantes e proporcionalmente aos quinhões que a cada um pertenciam no navio.
2.ª- No caso de algum ou alguns dos sócios quererem dispôr das suas partes, não o podiam fazer sem consentimento dos restantes sócios, que teriam a preferência querendo.
3.ª- No caso de haver divergência entre os sócios prevaleceria a decisão da maioria, tendo em atenção o disposto no artigo 1325 do Código Comercial Português.
Pimpão
O navio a que se refere este contrato era um palhabote construído nos estaleiros do Aterro, a montante da Ponte Eiffel, em Viana do Castelo, segundo projecto do engenheiro Pedro Martins Branco, um dos sócios da parceria e não um iate como é referido em algumas publicações. Como se pode ver na fotografia o navio possui mastaréus de gave-tope nos dois mastros que o diferencia do iate que não possui mastaréus.
Com a devida vénia transcrevemos o que vem descrito no livro "Últimos veleiros do porto de Viana", que nos dá uma ideia da beleza e grandiosidade deste navio.
"Como navio mercante, empregou-se no transporte de vinho, cereais, sal e outros produtos comerciais, entre Viana e Lisboa.
Tinha, porém, uma categoria muito superior à de um simples cargueiro comercial. Portentoso e único na sua categoria, foi condecorado com a flâmula real numa festa realizada no Tejo.
A sua beleza vinha-lhe das próprias linhas e da imponente decoração. A mastreação, caída um pouco, intencional e atrevidamente, para ré, dava-lhe um ar insinuante e magestoso.
Metade do convés era pintado de encarnado e metade da ré em amarelo. A toda a volta do navio, nos topos dos óvens e nas bigotas, nos varandais e estais sobressaíam os copos de metal reluzente. No lais dos mastaréus tinha lanças em bronze, os arcos da gávea e a mesa das malaguetas eram forradas a latão dourado. Ao redor da popa era lacado em ouro. No beque ostentava a figura do Capitão Camilo Ferrinho que governou o Mentor II.
Restaurado em 1917, acabou por ser torpedeado na baía de Cascais, acabando no mar esta glória da construção naval."