Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

15
Jun 10


A notícia do naufrágio do iate “Helena Santa” nas camboas ao norte da barra de Viana do Castelo, no dia 16 de Novembro de 1945 pela manhã, mobilizou todos os meios humanos e materiais disponíveis na cidade naquela época.

Pouco antes do naufrágio, os pilotos tinham dado entrada ao palhabote “Maria Lucília”, mas entretanto fez-se cerração[1] e o “Helena Santa” devido à fraca visibilidade e ao mar agitado, perdeu o leme e caíu para cima da parede[2] sendo arrastado para as camboas[3] a norte da barra.

Os pilotos, o barco salva vidas João Tomaz da Costa, as duas corporações dos Bombeiros, Municipais e Voluntários, bem como uma ambulância da Cruz Vermelha, acorreram para prestar socorro aos tripulantes do malogrado iate.

O primeiro sinal de perigo foi dado pela sirene de bordo do iate naufragado, secundado pelo palhabote “Maria Lucília” e lugre “Maria Madalena” que se encontrava na doca, o mesmo fazendo o sino de Santa Catarina que também tocou a rebate.

O sr. Capitão do Porto, comandante Laurindo Henrique dos Santos assistiu às manobras de salvamento dando ordens e chegou inclusive a mandar preparar o serviço para lançar um cabo de vai-vém, o que não chegou a ser necessário devido à eficiente acção do barco salva vidas.


A barra de Viana em 1945, vendo-se a embocadura, o cais do Bugio e por fora deste as camboas onde encalhou o "Helena Santa"

 

O barco dos pilotos tripulado pelo chefe Augusto Silva, auxiliado pelos colegas Mário, Costa e Jorge, permaneceu na embocadura da barra dando instruções à tripulação do “Helena Santa”.

Os sete tripulantes do iate “Helena Santa” foram todos resgatados pelo barco salva vidas, porém, quando deram pela falta de um, não exitaram em o ir salvar do perigo que corria, depois de ter abandonado o navio num escaler e indo na direcção da barra, resgatando-o de ser tragado pelas ondas alterosas no último momento.

Faziam parte da tripulação do salva vidas os arrojados e valentes marinheiros; Leonildo Araújo,João Duarte, José Rodrigues Costa, José de Castro Alheira, Eduardo Chavarria, Jerónimo Domingues Pires, José de Castro Soares, Miguel Freitas de Lemos, José da Lomba e os irmãos João e Álvaro Vieira, hábilmente orientados pelo patrão António Gonçalves Gago.

Os tripulantes, chegados a terra, foram conduzidos na ambulância da Cruz Vermelha para o Hospital da Misericórdia, onde foram tratados a pequenas escoriações que sofreram no salvamento: João Martins dos Santos, de 36 anos, casado, mestre; António Viegas Ramos, 26 anos, solteiro, contra-mestre; Joaquim Estrela Ministro, 35 anos, 1.º Motorista; António de Sousa Pires, 34 anos, casado, 2.º Motorista; António Gonçalves de Sousa, 22 anos, solteiro, cozinheiro; José Viegas Contrinas, 42 anos, casado; Domingos Silvino Ferro, 24 anos, casado; Francisco Eduardo Alexandre, 34 anos, casado.

O iate “Helena Santa” era um barco de 115 toneladas de arqueação bruta, comandado pelo mestre João Martins dos Santos, propriedade de Roque & Filhos, de Faro e registado neste porto. Estava fretado a José Maria da Silva, de Lisboa e a força do mar desmantelou-o totalmente, dando à Praia Norte os restos do navio.

Um facto é digno de menção neste desenlace, que podia ter sido fatal se não fosse a pronta intervenção e coordenação dos meios utilizados, o sr. João Alves Cerqueira, mal teve conhecimento do sucedido e sensibilizado pela coragem e risco dos tripulantes do salva vidas, mandou-os gratificar com 500$00. Este acto prova não só a generosidade, como a grandeza de alma que este benemérito anónimo possuía e pelo qual ainda hoje muitas pessoas recordam com admiração e saudade.



[1] Cerração – nevoeiro fechado

[2] Parede –conjunto rochoso existente pelo norte da barra de Viana do Castelo

[3] Camboa - Nome dado no Norte do país a um pesqueiro formado por um muro de pedras soltas que delimita um espaço para onde o peixe que entra na Preia-mar fica retido na Baixa-mar.

Fontes: A Aurora do Lima

 

Viana do Castelo, 2010-06-15

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 16:42

09
Jun 10

SALVO PELA FONIA

 

Um caso insólito ocorreu em 1945 em Viana do Castelo, quando o conceituado médico oftalmologista Dr. Carlos Souto Morais, com consultório em Viana do Castelo, salvou de ficar cego o capitão do navio bacalhoeiro “Groenlândia”, sr. Manuel Viana, pessoa muito conhecida e estimada nesta cidade.

O navio “Groenlândia” encontrava-se no alto mar e o capitão, após ter dirigido as manobras de bordo, possivelmente cansado pelo esforço dispendido, foi-se deitar com a roupa molhada, tendo sido acometido de cegueira súbita, devido a resfriamento.

Perto do ”Groenlândia” encontrava-se o navio a motor “São Rui”, propriedade da Empresa de Pesca de Viana, do comando do capitão Aquiles Gonçalves Bilelo que, sabendo da existência em Viana do Castelo de um oftalmologista competentíssimo, como era o Dr. Souto Morais, contactou com o navio “Santa Maria Madalena” que se encontrava já em Viana do Castelo, depois de ter regressado da campanha daquele ano mais cedo, por ter sido escolhido para chefiar um comboio de navios, pedindo-lhe ajuda.

Atendeu o pedido o sr. capitão José Águas Ferreira dos Santos da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau que nessa altura se encontrava a bordo e que imediatamente estabeleceu contacto com a empresa, encontrando o sr. João Alves Cerqueira, a quem contou o sucedido e este, num gesto de humanismo e solidariedade, próprios da sua pessoa, disponibilizou o seu automóvel a fim de ir buscar o Dr. Souto  Morais, para através da rádio T.S.F. do navio, fazer o diagnóstico do estado de saúde do capitão do “Groenlândia” e tomar as medidas que julgasse mais adequadas, para minimizar os efeitos daquela cegueira súbita que ocorrera ao capitão Manuel Viana.

Um dos primeiros jornais a ter conhecimento deste acontecimento e a dar a notícia foi o “Diário de Notícias”, através do seu correspondente nesta cidade, o senhor João da Rocha Páris Vasconcelos, que no dia 25 de Outubro, logo pela manhã, se dirigiu a bordo do “Santa Maria Madalena”, onde foi recebido pelo capitão José Águas Ferreira dos Santos, pelo 1.º maquinista sr. José Rocha e pelo sr. António Gonçalves Viana, empregado da Empresa de Pesca de Viana, para saber notícias do estado de saúde do capitão do “Groenlândia” e da reacção ao tratamento prescrito na véspera pelo dr. Souto Morais.

Aqueles cavalheiros amavelmente convidaram-no a comunicar via rádio com o capitão do navio “São Rui”, Aquiles Gonçalves Bilelo que lhes deu a boa notícia da recuperação da visão do capitão Manuel Viana.

Este foi o primeiro tratamento médico efectuado desta cidade através da T.S.F. Questionou-se na altura a falta de uma estação de T.S.F. para atendimento de apelos semelhantes feitos pelos navios no alto mar, a instalar na Estação de Pilotos ou na Capitânia.

 

Fontes:

A Aurora do Lima : 30-10-1945

 

Viana do Castelo, 2010-06-09

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 21:55

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