A notícia do naufrágio do iate “Helena Santa” nas camboas ao norte da barra de Viana do Castelo, no dia 16 de Novembro de 1945 pela manhã, mobilizou todos os meios humanos e materiais disponíveis na cidade naquela época.
Pouco antes do naufrágio, os pilotos tinham dado entrada ao palhabote “Maria Lucília”, mas entretanto fez-se cerração[1] e o “Helena Santa” devido à fraca visibilidade e ao mar agitado, perdeu o leme e caíu para cima da parede[2] sendo arrastado para as camboas[3] a norte da barra.
Os pilotos, o barco salva vidas João Tomaz da Costa, as duas corporações dos Bombeiros, Municipais e Voluntários, bem como uma ambulância da Cruz Vermelha, acorreram para prestar socorro aos tripulantes do malogrado iate.
O primeiro sinal de perigo foi dado pela sirene de bordo do iate naufragado, secundado pelo palhabote “Maria Lucília” e lugre “Maria Madalena” que se encontrava na doca, o mesmo fazendo o sino de Santa Catarina que também tocou a rebate.
O sr. Capitão do Porto, comandante Laurindo Henrique dos Santos assistiu às manobras de salvamento dando ordens e chegou inclusive a mandar preparar o serviço para lançar um cabo de vai-vém, o que não chegou a ser necessário devido à eficiente acção do barco salva vidas.
A barra de Viana em 1945, vendo-se a embocadura, o cais do Bugio e por fora deste as camboas onde encalhou o "Helena Santa"
O barco dos pilotos tripulado pelo chefe Augusto Silva, auxiliado pelos colegas Mário, Costa e Jorge, permaneceu na embocadura da barra dando instruções à tripulação do “Helena Santa”.
Os sete tripulantes do iate “Helena Santa” foram todos resgatados pelo barco salva vidas, porém, quando deram pela falta de um, não exitaram em o ir salvar do perigo que corria, depois de ter abandonado o navio num escaler e indo na direcção da barra, resgatando-o de ser tragado pelas ondas alterosas no último momento.
Faziam parte da tripulação do salva vidas os arrojados e valentes marinheiros; Leonildo Araújo,João Duarte, José Rodrigues Costa, José de Castro Alheira, Eduardo Chavarria, Jerónimo Domingues Pires, José de Castro Soares, Miguel Freitas de Lemos, José da Lomba e os irmãos João e Álvaro Vieira, hábilmente orientados pelo patrão António Gonçalves Gago.
Os tripulantes, chegados a terra, foram conduzidos na ambulância da Cruz Vermelha para o Hospital da Misericórdia, onde foram tratados a pequenas escoriações que sofreram no salvamento: João Martins dos Santos, de 36 anos, casado, mestre; António Viegas Ramos, 26 anos, solteiro, contra-mestre; Joaquim Estrela Ministro, 35 anos, 1.º Motorista; António de Sousa Pires, 34 anos, casado, 2.º Motorista; António Gonçalves de Sousa, 22 anos, solteiro, cozinheiro; José Viegas Contrinas, 42 anos, casado; Domingos Silvino Ferro, 24 anos, casado; Francisco Eduardo Alexandre, 34 anos, casado.
O iate “Helena Santa” era um barco de 115 toneladas de arqueação bruta, comandado pelo mestre João Martins dos Santos, propriedade de Roque & Filhos, de Faro e registado neste porto. Estava fretado a José Maria da Silva, de Lisboa e a força do mar desmantelou-o totalmente, dando à Praia Norte os restos do navio.
Um facto é digno de menção neste desenlace, que podia ter sido fatal se não fosse a pronta intervenção e coordenação dos meios utilizados, o sr. João Alves Cerqueira, mal teve conhecimento do sucedido e sensibilizado pela coragem e risco dos tripulantes do salva vidas, mandou-os gratificar com 500$00. Este acto prova não só a generosidade, como a grandeza de alma que este benemérito anónimo possuía e pelo qual ainda hoje muitas pessoas recordam com admiração e saudade.
[1] Cerração – nevoeiro fechado
[2] Parede –conjunto rochoso existente pelo norte da barra de Viana do Castelo
[3] Camboa - Nome dado no Norte do país a um pesqueiro formado por um muro de pedras soltas que delimita um espaço para onde o peixe que entra na Preia-mar fica retido na Baixa-mar.
Fontes: A Aurora do Lima
Viana do Castelo, 2010-06-15
Manuel de Oliveira Martins