A pesca está na origem do primeiro povoado que deu nome a Viana. Foi a formação desta póvoa marítima de pescadores que se dedicavam à pesca no rio e no mar que mais tarde D. Afonso III reconheceu valor elevando-a à categoria de vila e atribuindo-lhe o primeiro foral em 18 de Junho de 1258.
No início do Século XX era importante a captura da lagosta que era exportada essencialmente para França, Inglaterra e outros países do mar do Norte.
Traineira espanhola atracada na Doca Comercial em Viana do Castelo
A sardinha se bem que fosse utilizada pelas camadas mais pobres da população, especialmente salgada, não era dominante, representado uma pequena parcela do total das capturas com prevalência da lagosta como refere o jornal A Aurora do Lima em 04-05-1903; lagosta-2:370$400, outras espécies marítimas- 58$400, sardinha- 17$600 reis.
Nesta época as pessoas queixavam-se da falta de higiene existente em certas ruas da cidade onde se salgava sardinha, reclamando das autoridades camarárias a tomada de medidas impedindo esta prática pouco higiénica.(a)
Redes de cerco estivadas no cais
Em 1914 os pescadores da ribeira de Viana através da Associação da classe protestaram junto do Capitão do Porto no sentido de haver mais fiscalização às traineiras espanholas que não respeitam as regras da pesca, usando dinamite na captura da sardinha, nem as regras para evitar abalroamentos no mar, navegando de noite com os faróis apagados para não serem detectados pela fiscalização, que não existe.(a)
A mesma situação repete-se em 1921, chegando até, no fulgor da ardentia, uma traineira espanhola de nome Camposina, de la Guardia, ao seguir os fios de um cardume de norte para sul foi embater contra o penedo do Ladrão vindo mais tarde a encalhar no lago do Castelo.(a)
A traineira espanhola Cha Veiga que habitualmente pesca no Mar de Viana
Ao longo dos tempos os atritos entre pescadores portugueses e espanhóis foram constantes.
Em meados do século passado cerca de 1941 a sardinha começou a ser procurada por todas as classes sociais atingindo já nessa época o valor de 125$00 o cabaz.(a) Foi a época áurea das traineiras e dos armadores de Matosinhos. Viana do Castelo jamais foi um porto importante na pesca da sardinha através da utilização da arte de cerco, como o comprova não ter havido muitas traineiras registadas nessa arte, preferindo os pescadores utilizar para esse efeito a rede de tresmalho, com capturas inferiores às do cerco mas melhor qualidade e tamanho tal como os ancorenses ainda hoje utilizam este método de pesca.
Alador de rede de cerco da traineira Cha Veiga
Há cerca de 20 anos ainda era possível ver na lota de Viana algumas traineiras de Leixões que aportavam a Viana para vender a safra da manhã quando pescavam no mar de Viana.
Actualmente a frota da sardinha de Matosinhos praticamente não existe, estando reduzida a poucas traineiras que tudo o que pescam vendem na lota de Matosinhos.
As únicas traineiras que vendem sardinha em Viana são as espanholas outrora tão contestadas e agora tão acarinhadas. Os tempos mudaram, os métodos e as regras também. Estamos na Europa Comunitária com novas regras comuns a todos os países aderentes.
Redes de cerco prontas a ser usadas na pesca da sardinha
Costuma-se dizer que "quem toca é quem tem a guitarra". Neste caso eles é que tem os barcos e por isso os vemos atracados na doca comercial como as fotos documentam.
Nós abatemos os nossos barcos eles mantem-nos ou construiram outros e aí estão, como na agricultura, adquirindo terrenos e investindo no sector primário.
A traineira Nova Costas
O meu pai costumava dizer, há 50 anos atrás, a propósito do desprezo que os governantes já nessa altura mostravam em relação ao sector primário, agricultura e pescas, "Da terra e do mar é que vem o sustento da humanidade. Daqui a 50 anos quem cá estiver vai ter que se virar para a terra e para o mar à procura do sustento, se não quiser morrer à fome".
É por isso que os espanhóis já estão a apostar no sector primário para garantir a sua sobrevivência e de muitos outros.
(a) In A Aurora do Lima, 1902,1914,1921,1941.