Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

26
Set 09

Do meu posto de vigia - esplanada da praia do Coral - presencio e relembro as manobras de entrada e/ou saída dos poucos navios que ainda demandam o porto de Viana do Castelo, nesta época de crise económico-financeira, que se repercute em todos os sectores de actividade, em que o dos transportes marítimos, é um barómetro importante na determinação desta crise.

 

 Regata frente à Estação de Pilotos

 

Hoje, fui testemunha de um acontecimento, à primeira vista de menor importância ou mesmo nenhuma, para a maioria das pessoas que não estão ligadas à actividade marítima, especialmente às manobras de entrada e/ou saída de navios em porto - à pilotagem.

Este facto fez-me lembrar outros em que fui interveniente directo e por isso não posso deixar de referir as consequências que daí podem advir, prevenindo e tomando medidas que evitem tais situações.

Antes de relatar o que se passou quero deixar bem claro que esta menção não me foi encomendada, nem tão pouco os meus colegas pilotos da barra têem conhecimento que a escrevi.

 

 Navio a sair a barra

 

Na análise que faço (sempre fiz) dos factos, procuro isenção e independência, colocando-me dos dois lados da "barricada" como é costume dizer-se.

Gosto imenso da actividade  desportiva da vela e tenho pena do meu filho não a ter praticado enquanto jovem, precisamente consequência dum caso análogo ao que hoje aconteceu e que vou relatar.

 

 Aproximação do barco-instrutor

 

Estamos em finais de Setembro (26). Está um dia espectacular em temperatura, vento,ondulação e visibilidade. Sento-me na esplanada e deleito-me a olhar o mar e costa adjacente na direcção do Sul, percorrendo com o olhar a Amorosa com o seu casario policromático, o Castelo do Neiva com o paredão escuro do portinho de pesca bem visível no horizonte de mar, Ofir com os edifícios em altura dos hotéis, A-Ver-o-Mar igualmente visível em dias límpidos, devido à altura dos "mamarrachos" que aí foram erigidos consequência duma construção àvida de dinheiro e sem controle nem planificação.

 Em primeiro plano, um grupo de "optimists" que vogam ao sabor da aragem branda que escoa de terra, completam o quadro maravilhoso que me delicia o olhar e me enche de prazer.

 

Embarcações a desviarem-se da barra depois das ordens do monitor

 

Saboreava o meu café, sem açucar, para não  fazer tão mal, quando sou aturdido pelo som rouco e familiar da busina de um navio que saía a barra, escoltado por dois rebocadores, conforme é determinado pela legislação portuária, em função do tamanho. Trata-se portanto, para aqueles que não percebem, dum navio que necessita, para ser manobrado em segurança, do apoio de meios auxiliares de manobra para se poder movimentar sem risco em águas restritas, como é a entrada e/ou saída da barra.

O apito do navio é para  avisar as pequenas embarcações de vela (optimists), tripuladas por jovens com idades a rondar os 10 anos que se devem desviar do caminho do navio.

Acompanhei atentamente a manobra, como se estivesse em funções e verifiquei que as embarcações, embora movendo-se para sul, não se desviavam do enfiamento da barra, local por onde o navio devia passar, por isso o navio emitiu um segundo apito.

Imediatamente me veio à mente o que por diversas vezes se passou comigo, anos atrás, quando me vi confrontado com um panorama análogo.

 

Barra livre de embarcações no enfiamento do canal de entrada

 

A tensão sobe, a pressão aumenta perante a dupla responsabilidade de pilotar o navio em segurança e evitar abalroar as pequenas e frágeis embarcações tripuladas por crianças com pouca experiência. Ponho-me no lugar da criança que, ao avistar o "monstro" que se aproxima na sua direcção, cada vez maior e mais próximo, não sabe como agir e se defender, dispondo apenas de um leme, vela e vento cuja força cessará quando o navio servir de "parede" e a instabilidade da ondulação provocada pelo deslocamento do navio a obrigar a balouçar descontroladamente, porque neste como noutros casos não tem alguém responsável, um instrutor ou monitor que lhe dê instrucções para agir em conformidade.

Parece que estou a ver o "filme" de há anos atrás e que originou a não inscrição do meu filho na escola de remo e vela. O barco com o instrutor veio a toda a velocidade, no último minuto, sem consciência do que é a responsabilidade do piloto que tem de agir com tempo para evitar o pior e o que é mais grave, o abandono e perigo a que são expostas as crianças.

 

Embarcações com instrutor

 

No fim da manobra, depois do navio ter saído em segurança, porque essa é a missão do piloto da barra, dei instrucções ao mestre da lancha de pilotos para abordar a embarcação do clube de vela e enérgicamente chamei à atenção do monitor, para a negligência de deixar crianças de tenra idade, indefesas, em frágeis embarcações abandonadas perante um perigo daquela natureza e da responsabilidade que é pôr um navio em perigo.

 

Embarcações rebocadas pelo barco instrutor

 

Fui maltratado pelo monitor e decidi que o meu filho não estaria sujeito a tamanha irresponsabilidade. Se o deixasse frequentar tal clube seria tão ou mais irresponsável que o pretenso "monitor", que me ofendeu em vez de pedir desculpa, pela incúria em deixar abandonados e expostos ao perigo crianças tão inaptas.

Tal como acabo de relatar, hoje sucedeu o mesmo com o barco da escola de vela que rio abaixo ultrapassou o navio e foi ao encontro dos optimists dando instrucções para se desviarem para barlavento, deixando assim o caminho livre ao navio.

 

Barra "tapada" com embarcações à vela

 

É possivel coabitarem todos no mesmo espaço, é necessário regras e especialmente comunicação entre os intervenientes. Defendo e sempre sugeri e apresentei soluções para que tal viesse a ser regularizado. É muito simples, basta um mero telefonema do clube de vela para a estação de pilotos a perguntar se vai haver movimento no período que pretendem efectuar os treinos ou regatas e nunca, em circunstância alguma deixar sózinhas as frágeis embarcações.

Esperemos não ter que lamentar um dia uma catástrofe que a ninguém interessa, para depois agir e tomar medidas à posteriori.

 

publicado por dolphin às 17:52

Caro amigo,
P.f diga-me como contactar consigo via <reimar50@gmail.com>.
Cumprimentos e bom fim de semana.
Reimar
Reinaldo Delgado a 27 de Setembro de 2009 às 03:56

Apreciei o seu comentário pela forma como relata um acontecimento que poderia ter tido consequencias gravíssimas , ainda bem que terminou todo na melhor. ribeiro
francisco a 16 de Outubro de 2009 às 16:51

um testemunho
no inicio dos anos 70, estava em regata do Campeonato Nacional Snipes e vivi uma situação idêntica ao atravessar o Tejo.
Navio de grande porte descia o rio em direcção à barra, as proas das duas embarcações convergiam para o mesmo local, como é lógico abalroamento eminente, mas o nosso sangue quente e jovem, faz com que a manobra de fuga seja feita à última da hora, apercebendo-se na esteira do navio, que este já começava a alterar o rumo para evitar o abalroamento certo.
Após nossa fuga o nosso espanto, do navio soaram uns sons fortes e característicos da sua "buzina" e um oficial, saiu do interior e agradeceu efusivamente várias vezes a nossa manobra. Aliás não seria de esperar outra coisa só que deveria ter sido mais cedo para dar a entender com antecedência qual a nossa intenção.
Quanto à instabilidade referida da ondulação provocada pela esteira do navio com as suas máquinas em plena força... bem só vos digo que foi um grande susto, parecia que o nosso snipe se ia desintegrar.
Salgado
Jose a 31 de Outubro de 2009 às 22:42

Agradeço o testemunho.
É bom ter a opinião de quem está do outro lado, o que sente e como vê a situação. Desta forma fica completa a observação que fiz relativamente a um tema que é pertinente.
Martins
dolphin a 2 de Novembro de 2009 às 17:55

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