A costa portuguesa era justamente apelidada no século XIX de "costa negra", em resultado da falta de faróis que balizassem os inúmeros perigos que existiam para quem navegasse junto à costa ou dela pretendesse aproximar-se.
Na costa norte de Portugal a ausência de faróis era um facto relatado e sabido dos navegantes que por mor disso evitavam a aproximação, a não ser por motivos imprevistos, caso de nevoeiro, mau tempo, avaria ou outro caso fortuito.
Sómente em 31-10-1902 é nomeada uma comissão composta por: Capitão de Mar e Guerra Patrício Ferreira que presidia, Capitão de Fragata Schultz Xavier e 1.º Tenente Oliveira, com o fim de estudar e propor os aparelhos ópticos e diferentes faróis a adoptar com vista a substituir nas futuras instalações conforme o plano de alinhamento e balizagem dos portos.
O Farol de Montedor começou a ser estudado em 1883 e só em 25-03-1910 foi inaugurado.
Como se depreende destes dois exemplos, o atraso em dotar a nossa costa de meios que permitissem aos navegantes navegar com segurança ao longo da costa portuguesa era notório e a própria demanda dos portos era uma aventura que teria de ser bem planeada em função de condições atmosféricas propícias que não pusessem em perigo a embarcação e a expedição.
Através deste blogue propomo-nos divulgar alguns casos de naufrágios que ocorreram no mar de Viana e imediações, alguns que fizeram história e deixaram marcas por muitos anos.
1 - NAUFRÁGIO DO IATE VALENTE 3.º
No dia 07-10-1857 cerca das 07.00 horas deu à costa na praia ao sul do Rego d'Anha, o iate Valente 3.º registado no porto de Esposende, que procedia de Setúbal com um carregamento de sal. O navio trazia água aberta (1) e as bombas estavam encravadas não podendo bombear a água que entrava em abundância para os porões (2).
O navio era comandado pelo mestre Manuel Pinto de Campos Júnior que conseguiu salvar-se bem como toda a tripulação e parte dos aprestos (3).
Como é costume nestes casos a Alfândega tomou conta da ocorrência e providenciou as medidas necessárias relativamente à carga e ao navio.
Desconhecia-se se o navio tinha seguro da carga e do navio.
Glossário: (1) - Água aberta - diz-se do navio que está a meter água por um rombo no costado. (2) - Porão - espaço de carga do navio. (3) - Aprestos - Utensílios usados a bordo dos navios para o seu funcionamento.
Fontes: A Aurora do Lima 09-10-1857; 31-10-1902; 23-03-1910
Viana do Castelo, 2010-03-18
Manuel de Oliveira Martins
publicado por dolphin às 22:55