QUADRO 11
FAROL DO CABO DE S. VICENTE
Óleo s/tela - 35X27
2002-11-19
Quando vinha do sul em direcção a Lisboa ou a Aveiro, caso do navio"TROPICAL", da Empresa de Pesca Miradouro, Lda., onde andei durante três anos na zona do Sudoeste Africano na pesca da pescada, o primeiro farol que avistava antes de chegar a solo português era o farol do C. de S. Vicente.
Por esse motivo é também um dos meus faróis preferidos e, tal como os anteriores, resolvi recordá-lo através desta forma de expressão plástica a que me dediquei nos tempos livres e despreocupados da minha vida de reformado.
A propósito deste farol vou contar uma história passada comigo a bordo do navio " Praia do Restelo" em 1976 quando regressava duma viagem de pesca à Mauritânia ou Cabo Branco como também chamavamos, por a zona de pesca se situar nas imediações do Cabo Branco.
Depois de passarmos as Canárias, Lanzarote mais precisamente, tracei rumo em direcção ao Cabo de S. Vicente. Durante a viagem até ao Algarve não tivemos sol para observar e fizemos navegação estimada, sem possibilidade de rectificarmos a posição, além disso fomos fustigados por uma nortada rija que nos fazia derivar para sueste. Estimava passar o São Vicente pela madrugada e, quando me fui deitar cerca da uma hora da manhã avisei o Mestre para estar atento que devíamos avistar o farol do C.de S. Vicente durante a noite, assim que o avistasse me chamar.
Cópia da Lista de Faróis de 1960
Eram cerca das quatro horas quando o mestre me chamou: - Senhor Capitão o farol está na proa. Levantei-me num salto e dirigi-me para a ponte que era ali mesmo ao lado. Peguei nos binóculos e comecei a contar os relâmpagos(4) seguido de ocultação. Verifiquei na carta e disse para comigo :-"Mas isto não pode ser, este é o Cabo de Santa Maria!". O navio estava muito para leste da posição estimada. Contei os relâmpagos novamente e o período de tempo para me certificar. Com efeito era o farol do Cabo de Santa Maria, o farol do Cabo de S. Vicente emite um relâmpago seguido de ocultação com um período de 5 segundos,enquanto o de Sta. Maria emite um grupo de 4 relâmpagos com um período de 15 segundos. Estava desfeita a dúvida, havia que traçar rumo para oeste, estavamos muito atirados para leste devido ao caímento provocado pela forte maresia apesar da correcção que efectuamos no rumo para atenuar o desvio derivante.
Foi assim na minha primeira viagem ao Cabo Branco em que saí de Lisboa como Imediato do Santa Luzia e entrei em Lisboa a comandar o Praia do Restelo. Por motivo de doença súbita do Capitão Lino, tive de passar do Ilha de Santa Luzia no mar para o Praia do Restelo e ir a Nouadhibou deixá-lo no hospital e acabar a viagem de pesca.