Desde muito cedo, ainda pequenos, aprendemos a fazer uma fogueira e, se soprarmos, ativamos o lume, isto é, provocamos uma corrente de ar – o vento.
Os fogos que mais acentuadamente têm origem no verão, embora possam surgir noutras épocas, constituem um flagelo em termos ambientais e económicos - muitas populações dependem da floresta.
Tenho sido uma vítima desta calamidade, enquanto produtor florestal. O meu pai valeu-se deste parco recurso agrícola para conseguir pagar os estudos dos filhos; daí que devo muito à floresta e nutro por ela um carinho especial, não só pelo magro pecúlio económico que possa usufruir caso a minha propriedade não arda (já ardeu três vezes em 40 anos), mas, sobretudo, pelo conforto que me dá no verão saborear uma sombra agradável quando a canícula aperta, e também pelo ar que respiro, fruto da existência desse bem precioso que tantos desprezam e maltratam.
A deflagração dos fogos tem origens e causas diversas. Há no entanto um fator que é preponderante para a propagação do fogo – o vento. Se experimentarmos fazer uma fogueira, sem vento, ela apaga-se após a matéria combustível ser extinta.
Tenho apurado que todos os fogos se dão quando as previsões meteorológicas apontam para a previsão de ventos com alguma intensidade (normalmente acima dos 20 Km/hora)capazes de fazer alastrar o fogo para zonas densamente arborizadas, tendo em conta a direção do vento.
Não é nos dias e nas zonas de temperaturas mais elevadas que os grandes fogos acontecem, mas sim nas zonas de maior matéria combustível e mais ventosas.
Como em tudo na vida a prevenção é fundamental para o combate e a dissuasão aos infratores. É muito difícil apanhar em flagrante os prevaricadores, mas é possível complementar com a prevenção outras medidas que devem ser aplicadas na gestão da floresta (a melhoria e abertura de caminhos, a criação de zonas tampão de propagação - aceiros, o fomento de associações de produtores, a fiscalização, etc.).
A meteorologia pode ajudar (já ajuda) na informação de dados e na criação de mapas de pontos e zonas potencialmente suscetíveis de deflagrarem fogos quer pela natureza e intensidade dos ventos quer pela quantidade de matéria combustível, humidade relativa e outras variáveis que influenciam os fogos.
É necessário a formação de técnicos especializados nesta matéria que possam integrar equipas de prevenção e vigilância, que uma vez no terreno, possam detetar e dissuadir os presumíveis pirómanos a praticarem atos tão criminosos e nefastos para as pessoas e para o ambiente.
O nosso país foi considerado pela então Comunidade Económica Europeia (CEE) na década de 90, como zona propícia à criação florestal, pelas características geomorfológicas e climatéricas. Em resultado dessa decisão estabelecida pelos países membros, foi atribuída a Portugal a verba de 900 milhões de euros, dentro dos princípios da Política Agrícola Comum (PAC), destinada a reestruturar a floresta, e garantir os postos de trabalho que por força desta medida, foram eliminados na agricultura.
Passados 30 anos da aceitação desta medida e da receção do dinheiro, eu pergunto: o que foi feito com essa verba em prol da floresta e da manutenção de postos de trabalho resultantes do abandono forçado das áreas e das culturas agrícolas?
A resposta está à vista e é confrangedora – NADA!
Viana do Castelo, 2015-08-10
Manuel de Oliveira Martins
maolmar@gmail.com