Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

25
Ago 17

É o título de um livro de minha autoria, que foi lançado no passado dia 15 de julho.

Curiosamente, este ano, os moradores da Rua Frei Bartolomeu dos Mártires (antiga rua do Leite), resolveram enfeitar a rua por ocasião da Romaria da Senhora da Agonia, com motivos alusivos aos naufrágios mais notórios que ocorreram no século XX em que intervieram marítimos do bairro da Ribeira de Viana, tão martirizada foi nesse século.

Registei em imagens alguns desses retábulos representativos dessas tragédias, com que os atuais moradores quiseram homenagear os seus mortos e que pretendem simbolizar os estados de alma das gentes que viveram esses acontecimentos funestos.

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O farol símbolo da orientação e apoio que dá aos homens do mar.

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A Senhora da Agonia a quem imploram em momentos de crise.

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Cristo pregado na cruz, outro símbolo da fé cristã, que carateriza as gentes do mar e a ele ligadas.

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Frei Bartolomeu dos Mártires, o santo de Viana e dos marítimos que a ele imploravam ainda em vida para acalmar o mar.

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Imagem do Sagrado Coração de Jesus, outra devoção enraizada nas martirizadas gentes da Ribeira.

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É o nome de um barco de pesca em que morreram sete infelizes pescadores, cuja memória perdorou por muitos anos até que outra mais grave veio fazer esquecer.

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Em memória dos que pereceram no naufrágio do salva-vidas «Ferreira do Amaral», quando assistia na entrada os barcos de pesca. Foram eles o mestre César e os marinheiros Mário Marques da Guia e António de Passos Pacheco, tendo-se salvado únicamente o motorista João Alves Viana.

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A tragédia do rebocador «Rio Vez», que trazia de Leixões um batelão a reboque, submergiu na barra, levando com ele para o fundo os seus oito tripulantes, salvando-se apenas os três tripulantes do batelão que entretanto deu à praia.

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Este barco da Ribeira de Viana, governado pelo arrais José Verde Gonçalves Lomba, foi vítima de abalroamento provocado pelo navio mercante norueguês «Bayard» em que pereceram 5 tripulantes, entre eles o arrais, salvando-se os restantes seis com a ajuda do barco «Virgem das Graças» que os trouxe para Viana.

Muitos outros foram vítimas de naufrágios. No livro com o título acima, que poderão encontrar na loja do CER no largo do Instituto Histórico do Minho, ao lado da Sé de Viana ou através dos endereços estudosregionais@sapo.pt ou livraria@cer.pt , encontrarão outros naufrágios e mais pormenores sobre estes acontecimentos trágicos ocorridos nos séculos XIX e XX no «MAR DE VIANA».

 

publicado por dolphin às 16:04

25
Jun 16

 

Graças ao empenho da minha amiga Armanda Santos, uma das intérpretes, acabo de assistir à última sessão extra da primeira encenação da peça «Anjo Branco», exibida a bordo do navio-museu «Gil Eannes».

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A divulgação do evento foi tão boa que os bilhetes para as três sessões programadas para os dias 22,28 e 29 de maio esgotaram rapidamente. Ainda bem que a organização resolveu efectuar duas sessões extra nos dias 4 e 5 de junho, de contrário não teria oportunidade de assistir e rever momentos hilariantes e dramáticos, alguns que me fizeram humedecer os olhos de emoção e comoção.

As actrizes e atores das oficinas de teatro Ativa Júnior, Ativa Sénior, Enquanto Navegávamos e do Teatro do Noroeste – CDV, estão de parabéns pela forma como souberam dar vida às cenas comoventes que recriaram sobre a vida a bordo de navios bacalhoeiros da pesca à linha e a bordo do Gil Eannes, bem como a alegria das idas a St. John’s.

A criação artística esteve a cargo do encenador inglês Graeme Pulleyin que soube interpretar e transpor para cena com humor, caso das passagens da cozinha ou das idas a terra ou com dramatismo e angústia as cenas da casa da máquina, da capela, da enfermaria e a memória de Bernardo Santareno nas interpretações do convés. Por esta maravilhosa e comovente encenação os meus parabéns.

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 A todas as pessoas que direta ou indirectamente contribuíram para por em cena esta peça que retrata duma forma fidedigna, quase real, a vida dura da pesca do bacalhau à linha, igualmente os meus parabéns.

Por último quero fazer um repto: quando houver oportunidade levem de novo à cena esta peça. É uma forma de transmitir às gerações vindouras a memória da pesca do bacalhau, que tanto engrandeceu Viana, apesar das agruras por que passaram os verdadeiros intérpretes – os pescadores.

Viana do Castelo, 2016-06-05

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

publicado por dolphin às 22:45

25
Jul 14

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL (5)

 

Dormitava, por efeitos do cansaço e do enjoo (já ultrapassado pela habituação), quando um dos homens de vigia me abanou alertando-me para um barulho que lhe parecia ser de um motor que por vezes se deixava de ouvir. Supus e não me enganei, que era a lancha de aliviar os botes do Novos Mares que vinha ao nosso encontro. Quando a lancha estava na crista das ondas ouvia-se perfeitamente, quando caía para a cava deixava de se ouvir. Ordenei então a todos, que tinham os coletes vestidos, para sacarem o apito dos respetivos coletes e começarem a apitar com quanta força tivessem, enquanto eu batia com os pequenos remos um no outro. De quando em vez mandava parar os apitos para escutar o barulho do motor que me parecia estar a dirigir-se na nossa direção por se tornar mais nítido.

Quando se avistou o clarão da pequena embarcação, quase impercetível, devido ao nevoeiro, quase todos se precipitaram para a abertura da jangada tornando eminente esta voltar-se. Tive de dar um berro a pôr ordem e serenar aquela euforia que poderia redundar em tragédia, mesmo à beira do salvamento.

Faltava ainda a viagem para o navio «Novos Mares» e a escalada pela escada de quebra costas. Um a um, com muita precaução para não cair ao mar gelado, lá foram subindo para bordo os náufragos da última jangada, aplaudidos pela algazarra dos outros que já se encontravam a bordo, em sinal de regozijo por verem o camarada a seu lado, são e salvo. Fui o último a saltar, não nas melhores condições. Durante o embarque dos tripulantes da lancha para o navio, o capitão tinha posicionado o navio por forma a fazer socairo[1] para o embarque se processar em melhores condições. No momento em que se deu a minha vez de saltar para a escada de quebra costas, o navio tinha descortinado[2] e rolava[3] bastante, obrigando a escada a balouçar como um pêndulo, tornando-se difícil embarcar nestas condições. Depois de várias tentativas infrutíferas, atirei-me para a escada agarrando o extremo com a mão esquerda e nesse momento houve um afastamento da lancha em relação ao navio e vice-versa e fiquei suspenso pela mão esquerda que aguentou com o meu peso e o impacto contra o costado do navio, enquanto tentava apanhar com a outra mão o outro lado da escada, o que consegui milagrosamente, no momento em que o navio rolava em sentido contrário e fiquei suspenso no ar até tocar com a ponta dos pés na água gelada no extremo do ângulo do balanço. Naquele momento pensei que não iria resistir e em segundos vejo-me novamente projetado contra o costado do navio dando-se aqui um milagre, uma força extrema e sobrenatural ajudou-me a subir dois degraus e colocar os pés na última travessa da escada de quebra costas. Estava salvo pensei eu. Agora podia vir o balanço que viesse que eu já conseguiria aguentar. Entretanto o capitão já conseguira posicionar o navio de forma ao balanço ser menor e pude subir para bordo mais facilmente e em segurança. No momento em que pousei os pés no convés do navio, respirei fundo e elevei os olhos para o céu, agradecendo a Deus a dádiva de me ter salvo a vida.

Estes momentos são inesquecíveis e gratificantes. Seguiu-se o repatriamento de que se encarregou o sr. Ângelo Silva, fretando um avião da Canada Air Pacific, para transportar as tripulações de dois navios, São Jorge e Capitão Ferreira, o navio «fantasma», e mais alguns tripulantes doutros navios que tinham ficado em terra doentes.

A chegada ao aeroporto da Portela em Lisboa foi comovente para todos nós especialmente aqueles que tinham familiares à espera. Não era o meu caso que tive de esperar mais algumas horas até que o autocarro chegasse à minha terra. Foram momentos indescritíveis que cada um viveu nos abraços que estreitaram com os familiares e amigos.

Dias depois da nossa chegada, os oficiais e alguns tripulantes foram chamados à capitania do porto de Aveiro para serem ouvidos em inquérito sobre a perda do navio, que se arrastou por semanas, sem qualquer conclusão.

Um dia encontrei na empresa o pescador que uma vez me disse na Terra Nova, que os pobres passavam a ricos e os ricos a pobres. Estava a lamentar-se ao armador, que perdera o motor no naufrágio e a Mútua não lhe pagava nada pela perda. O armador argumentava dizendo: - Você perdeu o motor e eu perdi o navio e também não me pagam. Ainda para mais duvidam do acidente e por isso está a decorrer um inquérito. Vamos lá a ver no que dá!... Tenho muita pena homem, mas não lhe posso valer. Você não quis fazer o seguro do motor como nós aconselhamos e alguns dos seus colegas fizeram e agora tiveram direito à indemnização.

Esperei por ele à saída da empresa e confrontei-o, disse-lhe: - Eu ouvi a sua conversa com o armador e lamento pelo sucedido. Eu bem o avisei que as coisas não eram como você supunha. Nada se faz sem trabalho. Desejo-lhe sorte.

E partimos cada um para seu lado, à procura de melhor sorte.

 

Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 05/06/2014

 

Viana do Castelo, 2014-05-04

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

 



[1] Socairo – Proteger do vento e mar.

[2] Descortinar – Mover a proa para um e outro bordo por ação do vento, mar ou corrente e, quando a navegar, por acção do leme ou do hélice.

[3] Rolar – dar rolo significa o navio balouçar lateralmente de bombordo a estibordo.

publicado por dolphin às 18:04

22
Jul 14

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL (4)

 

Não havia acordo possível, os pescadores só queriam regressar para participar nas mudanças pós 25 de Abril, que supunham ser de grandes benefícios para a sua classe.

Um dia chegou a notícia do regresso a Aveiro dos dois navios da pesca à linha, o Novos Mares e o São Jorge, onde eu exercia as funções de Imediato. Dum modo geral todos regozijamos com a notícia em especial os que reivindicavam incessantemente essa tomada de decisão – os pescadores.

Não manifestei exteriormente essa alegria, mas no fundo eu era o que tinha mais razões para estar contente. Eu tinha feito um contrato fixo para a viagem de 5 meses e com a vinda mais cedo (metade do tempo) iria receber pela totalidade. Foi o melhor vencimento mensal em toda a minha vida.

Largamos de St. Jonh’s ao meio dia rumo a Aveiro, contentes por podermos encontrar os familiares e passar o verão, o que não era habitual nesta vida da pesca do bacalhau, especialmente na pesca à linha e na pesca com redes de emalhar que aproveitavam as boas condições do verão para efetuarem as campanhas. Já na pesca do arrasto, às vezes, dava para passar uns dias de verão durante a estadia entre a viagem de verão e de inverno.

Eram cerca das 18.00 horas quando o moço da copa veio chamar para a 1.ª mesa do jantar. O 2.º maquinista mandou avisar que viria mais tarde devido a uma avaria na casa da máquina. Comemos a sopa e quando nos preparávamos para o prato de peixe, o ajudante de serviço à casa da máquina veio avisar o capitão que havia fogo na casa da máquina. O capitão foi a correr para a casa da máquina enquanto eu fui para a ponte do navio enviar um SOS a pedir socorro, contactando imediatamente por VHF[1] com o navio «Novos Mares» que seguia a cerca de 2 milhas por nosso estibordo[2]. Olhei para esse lado mas não avistei o navio porque uma neblina difusa não permitia visualizá-lo aquela distância.

O mar apresentava-se cavado[3] tínhamos passado por dois icebergs em decomposição horas antes e a temperatura da água era cerca de dois graus.

O maquinista que se encontrava de serviço teve o bom senso de parar a máquina e o navio ficou parado, atravessado ao mar, balouçando ao sabor das ondas, uma situação muito difícil para se efetuar o salvamento.

O sucesso de uma operação de salvamento é haver ordem e não entrar em pânico. Foi uma sorte o que aconteceu naquele dia naqueles mares gelados e escuros. Os pescadores em vez de se dirigirem aos seus postos de salvamento obrigatoriamente atribuídos, começaram de arriar os botes que não resistiam naquelas condições adversas, em vez de se dirigirem para os seus postos e colaborarem nas tarefas distribuídas a cada um.

O meu lado era o de estibordo e com o contramestre fui atirando para a água e abrindo as jangadas salva vidas, enquanto os pescadores, que não se conseguiam aguentar nos dóris, faziam o transbordo para as jangadas de pessoas e haveres que pretendiam salvar.

Depois de ter aberto todas as jangadas do meu bordo, estava exausto e apesar do esforço, sentia um frio enorme devido às temperaturas baixas (cerca de 7º) agravado por estar em mangas de camisa. Tentei entrar no meu camarote para apanhar um agasalho mais quente, mas, no momento em que abri a porta, as labaredas emergiram do interior e fechei imediatamente a porta e coloquei-me por fora do varandim à popa, para tentar saltar para a única jangada que ainda estava presa ao navio daquele lado. Um tripulante da jangada estava com uma navalha na mão para cortar a boça[4] que prendia a jangada ao navio. De cima do navio onde me encontrava gritei-lhe para não o fazer senão lhe mandava com um ferro à cabeça, dissuadindo da intenção. Ao fim de várias tentativas para saltar para a jangada e não cair à água gelada, já cansado decidi atirar-me na esperança de cair em cima da jangada que ora se afastava ora se aproximava do navio conforme o balanço.

Atirei-me duma altura de cerca de 6 a 7 metros e por sorte caí dentro da jangada, mas bati com a perna direita em algo duro que me deu a sensação de ter partido a perna. Era uma caixa de madeira que um pescador se lembrou de levar para a jangada contra todas as recomendações. Aquela dor foi horrível. Parecia que tinha partido a perna. Passado algum tempo a dor abrandou e apalpei a perna sentindo o sangue escorrer da canela que felizmente não estava partida. A minha preocupação voltou-se instantaneamente para a proximidade do navio e dei ordens para com os pequenos remos de que dispunha a jangada e com as mãos nos afastarmos do navio para não sermos sugados pela corrente de redemoinho quando o navio se afundasse. Conseguimos afastarmo-nos uns bons metros, o suficiente para não sermos arrastados e vermos o crepitar do navio a arder em chamas que iluminava as jangadas que ainda se encontravam nas proximidades do navio e não consegui divisar mais que duas na auréola das chamas do navio.

As labaredas eram enormes, negras e cinzentas, o fumo denso e matizado de cores ocre, o mar estava coalhado de botes vazios uns outros voltados, à deriva. Uma explosão seguida de outra quase imediata ecoou no silêncio sepulcral daquela noite fria e tenebrosa. O navio abriu pela popa projetando labaredas e tábuas incendiadas que caíam na água provocando um ruído aterrador. Em poucos minutos o navio ergueu a proa para o céu como que a pedir misericórdia e afundou-se num ápice. À nossa volta ficou tudo escuro como breu, só o marulhar das ondas por companhia.

A bordo da jangada o cheiro era nauseabundo. Um cheiro a vomitado impestava o ambiente. Um energúmeno, em pé, no meio da jangada, de navalha aberta, apregoava que já tinha sido náufrago do Brites[5]. Ordenei-lhe que fechasse a navalha para não por em perigo a vida de todos quantos estavam ali. Se ele caísse e furasse a jangada íamos todos para o fundo. Basofiando não acatou a ordem e, combalido ainda da pancada e meio enjoado pelo balanço próprio de um meio elástico ao qual não estava habituado, ainda arranjei energias para lhe desferir um murro que o atordoou e pôs a dormir para não nos incomodar por algum tempo.

Era necessário tomar alguma mediada, na expetativa de alguém vir em nosso auxílio. Alimentava a esperança do navio Novos Mares vir em nosso auxílio e providenciei no sentido de estarmos vigilantes e estabeleci um sistema de vigias pela abertura da jangada, atentos a qualquer barulho de motor  que pudesse aproximar-se de nós.(Continua)

 

Publicado no jornal «A Aurora do Lima», em 10 de julho de 2014

 

Viana do Castelo, 2014-05-03

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com



[1] VHF – Very High Frequence – aparelho de comunicação de ondas de alta frequência usado nas comunicações a curta distância.

[2] Estibordo – lado do navio que fica à direita quando estamos virados para a proa.

[3] Mar cavado – Mar com profundos espaços entre as vagas, cerca de 4 a 5 metros.

[4] Boça – cabo fino destinado a amarrar as embarcações miúdas.

[5] Brites . Lugre de 4 mastros que naufragou nos bancos da Terra Nova

publicado por dolphin às 23:43

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL (3)

 

Atracamos no cais do Norte, frente à Water Street, mesmo no centro da baixa da cidade de St. John’s, a uma centena de metros da Fundação George V, onde estava sedeada a Casa dos Pescadores, na época dirigida por um vianense, o senhor Ângelo Silva, de saudosa memória.

Quando chegamos, já se encontrava atracado ao cais o Capitão Ferreira, um navio da pesca à linha que havia sido transformado em navio de redes de emalhar. Tinha arribado a St. John’s com uma revolta do pessoal que se negava a trabalhar por que o navio tinha fantasmas. O Imediato era do meu curso e contou-me os motivos. Da primeira vez um homem ficou esmagado entre a lancha e o turco de suspensão, invocando alguns que a culpa era do imediato que comandava as operações de içar as lanchas. O facto é que quem estava aos comandos do guincho era um motorista e mesmo ele não podia ser responsabilizado pois tratou-se de uma falha mecânica, como veio a ser apurado. A segunda morte ocorreu numa noite de S. João depois de terem festejado a efeméride abundantemente com bebida como é apanágio do pessoal do mar, para esquecer as mágoas. O infeliz pescador durante a noite, ensonado e atormentado ainda pela bebida veio à borda urinar, em vez de ir ao quarto de banho e caiu ao mar, ninguém deu pela queda, só pela manhã notaram a sua falta.

Depois de reunirem no rancho, um grupo foi à ponte comunicar ao capitão que não trabalhavam mais e pretendiam que o navio arribasse a St. John’s e fossem repatriados de avião por causa dos fantasmas; nem admitiam sequer regressar a Portugal no navio por causa dos ditos seres fantasmagóricos que habitavam o navio.

 

O encontro das tripulações dos navios «salvadores» com a do «navio fantasma» enquistou a saída para o mar e os pescadores da linha associaram-se aos colegas das redes de emalhar reivindicando o regresso a Portugal, não pela via aérea como os do Capitão Ferreira, mas nos próprios navios onde tinham os motores e os haveres que lhe eram caros.

Neste impasse se mantiveram e, os navios das redes de emalhar, à medida que iam chegando a St. John’s, aderiam à reivindicação dos outros, até que se juntaram tripulações de 7 ou 8 navios, cerca de 600 homens. As agências consignatárias dos navios não tinham autorização para fornecer dinheiro às tripulações por ordem de Lisboa, que tinha congelado a saída de divisas. Sob a ameaça dos tripulantes que insinuavam assaltar casas comerciais na Water Street, caso não lhes fosse fornecido dinheiro, a polícia montada do Canadá implantou um dispositivo de segurança junto dos navios com cães amestrados, controlando as saídas para terra de toda a gente.

Uma comitiva da Junta de Salvação Nacional, entretanto constituída, deslocou-se a St. John´s para tentar apaziguar os ânimos e resolver a ida dos navios para a pesca. Depois de duas reuniões no auditório da Casa dos Pescadores, onde foram maltratados e enxovalhados e até tomates e ovos foram arremessados, regressou a Lisboa sem nada ter conseguido.

Os armadores, por seu lado, que estavam a sofrer na pele esta paragem, pois tinham feito avultados investimentos nos navios para a campanha, também se deslocaram à Terra Nova para chegarem a um acordo e minimizarem os prejuízos da viagem. Há cerca de um mês que estavam os navios parados, sem meterem um peixe no porão.

Era junho, altura em que a cidade de St. John´s se torna mais atraente com a verdura dos jardins, públicos e particulares, convidando ao lazer nos parques da cidade durante o dia e, nas noites amenas, uma ida aos bares beber um copo e divertir um pouco.

Eu e todos os outros íamos desfrutando o bom tempo que fazia sem as agruras da pesca, mas era tudo ilusório e eu tinha consciência disso. Muitas vezes, em conversa com alguns pescadores, mais ponderados e menos emotivos, tentava persuadi-los do logro em que tinham caído e chamá-los para a realidade, sem resultados.

Os navios das redes de emalhar partiram para a faina ficando amarrados ao cais os últimos bacalhoeiros da pesca à linha e o «navio fantasma». Nada os fazia demover do regresso a Portugal.

 

Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 19/06/2014

 

Viana do Castelo, 2014-05-02

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

publicado por dolphin às 00:12

01
Jul 14

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL (2)

 

St. John´s é o porto mais conhecido e acarinhado pelos pescadores portugueses da pesca do bacalhau. Fica situado na península de Avalon na ilha da Terra Nova. É uma baía ampla, capaz de albergar uma frota como a «frota branca»[1] noutros tempos e protegida das intempéries, com uma abertura profunda e estreita entre dois montes. Pela sua posição central relativamente aos pesqueiros, e pela segurança que oferece, os capitães dos navios bacalhoeiros portugueses e doutras nacionalidades preferem-no, devendo-se por tal motivo o seu desenvolvimento.

 

 

Em consequência dos acontecimentos ocorridos a bordo do S. Jorge, como tivemos ocasião de descrever anteriormente, o navio teve de arribar a St. John´s para abastecer de víveres e meter um ajudante de cozinha, necessário para ajudar o pessoal da cozinha nas tarefas redobradas da preparação das refeições nos moldes estabelecidos pelo capitão – sopa, prato de peixe, prato de carne e sobremesa – para toda a tripulação, de cerca de setenta homens.

O navio permaneceu em St. John´s uma semana, a ultimar estes preparativos para não ter que interromper a pesca, o que permitiu ao pessoal telefonar para as famílias e inteirar-se do que se estava a passar em Portugal.

Saímos de St. John´s para a pesca diretos ao pesqueiro Banquereau que fica na costa da Nova Escócia, onde se situa o porto de Halifax, outrora utilizado pelos navios portugueses quando operavam naquela zona.

Na viagem de navegação, um pescador que ía ao leme, disse-me convicto: -Sr. Imediato, isto agora vai mudar, a minha mulher disse-me que os pobres vão passar a ser ricos e os ricos vão ter de dar aos pobres, quem me dera estar lá agora. Estou desejoso que a viagem termine para chegar a Portugal. Só tenho medo de chegar tarde e outros apanharem tudo!

Ah! – disse eu, curioso para saber mais, e perguntei?

- Então como é que isso vai ser feito? Também estou interessado!

 

 Esta era a ideia que ocupava a mente da maioria dos pescadores, distorcida da realidade pela boca dos familiares, que gerou entre as tripulações dos navios que se encontravam na faina, confusão e ansiedade.

A ameaça da aproximação de um ciclone, levou os três navios da pesca à linha, de arribada[2] para o porto francês de Saint Pierre, na ilha do mesmo nome situada na foz do rio S. Lourenço, outro porto querido das tripulações portuguesas, por ser mais latino.

Passados dias, o ciclone passou mais pelo Norte, rumo ao Labrador e era tempo de regressar à pesca. A permanência em terra durante quase uma semana permitiu o contacto com as famílias, como habitual e salutar, mas também se notou a influência política, a perturbar a unidade do grupo, tornando-os confusos e ansiosos e não esclarecidos.

Uma fação não queria sair para a pesca mas pretendia que o navio fosse direto para Portugal, enquanto outra, minoritária em relação à primeira pretendia continuar a pescar, invocando o sustento das famílias. Neste confronto se mantiveram sem chegar a acordo. O piloto da barra chegou a vir a bordo para dar saída ao navio por 13 vezes e da última vez afirmou que enquanto não houvesse um consenso para sair não viria a bordo. O capitão e restantes oficiais eram impotentes perante tal situação e temiam o pior, um confronto físico entre os grupos. Fui encarregado, devido à minha função, de tentar apaziguar os ânimos e encontrar uma solução que satisfizesse as duas partes.

Não sei explicar o que demoveu ou motivou as duas fações. Sei que consegui que se abraçassem e esquecessem as divergências e pudéssemos sair para a pesca. Pescamos primeiro no banco S.Pierre, depois nos espalcos[3] e por fim nos Virgin Rocks[4], compondo o porão apesar dos dias perdidos em terra.

 

 Um dia pela manhã, ao arriar[5], o mar estava chão, o São Jorge estava fundeado por Leste do Mano leijo[6] e o Ilhavense do mesmo lado no Sado leijo e o Novos Mares pescava no Eastern Shoal[7], o capitão do Ilhavense chamou por socorro dizendo que o navio estava a arder com fogo a bordo na casa da máquina. Os dois navios, São Jorge e Novos Mares, suspenderam e rumaram para a posição onde se encontrava fundeado o Ilhavense. Quando o São Jorge lá chegou passado pouco mais de meia hora (o tempo de suspender e navegar cerca de uma milha), encontrou todos os botes e as jangadas salva vidas na água, e o navio Ilhavense envolto numa fumarada. Foi só começar a recolher os botes enquanto o Novos Mares que estava mais distante, cerca de 5 milhas, chegava e procedia igualmente noutra ponta a içar os botes.

Depois de todos salvos, a pedido do capitão do navio incendiado, os capitães dos outros dois navios salvadores, aguardaram que o navio fosse para o fundo, sinal de que não ficaria à deriva e constituísse um perigo para a navegação e o capitão fosse acusado de ter abandonado o navio naquelas condições.

Os dois navios rumaram a St. John´s, distante cerca de 6 horas de viagem, a fim de descarregar os náufragos. (Continua)

 

Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 22/05/2014

 

Viana do Castelo, 2014-04-28

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

 

 

 



[1] White Fleet – Frota Branca – Nome por que era conhecida a frota portuguesa da pesca à linha, devido os navios serem todos pintados de branco, para melhor serem identificados durante a 2.ª Guerra Mundial.

[2] Arribada – ida para terra por motivo de avaria, doença ou mau tempo.

[3] Espalcos - pesqueiros

[4] Virgin Rocks - pesqueiros

[5] Arriar – largar os botes na água

[6] Leijos – pedras onde o bacalhau se concentra (Mano, Sado, etc)

[7] Eastern Shoal – pesqueiro que fica 5 milhas por Leste dos Virgin Rock’s

publicado por dolphin às 22:35

21
Jun 14

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL? (I)

 

Esta pergunta ficou célebre através de um conhecido jornalista e escritor e tem sido mencionada por outras fontes, nomeadamente o JN durante o mês de abril, em entrevistas feitas a personagens conhecidas da vida pública portuguesa.

Hoje, faz 40 anos que se deu o 25 de abril e é exultante para mim relembrar esse momento e os que se seguiram. Quis o destino que naquele ano de 1974 em que decidira fazer uma pausa na minha vida de homem do mar, para me casar, tal não viesse a suceder, e não resisti a uma oferta bastante aliciante monetariamente, de fazer uma viagem num navio da pesca à linha.

A pesca à linha estava no fim. Só restavam 3 navios da famosa frota branca que ainda persistiam naquele tipo de pesca, há muito abandonado por outros países, com frotas pesqueiras do bacalhau. Eram eles o Ilhavense, o São Jorge e o Novos Mares. Dos três somente o Novos Mares regressaria a Portugal, os outros dois por lá ficaram, vítimas de incêndio em circunstâncias diferentes.

O São Jorge, navio onde eu desempenhava as funções de imediato, saiu de Lisboa no dia 22 de abril, depois dos preparativos usuais para a viagem de 5 meses - regulação de agulhas, calibração do radiogoniómetro, abastecimento de sal, mantimentos e aprestos, etc. – com destino aos bancos da Terra Nova.

O São Jorge navegava no canal com o mesmo nome, entre as ilhas açorianas do grupo central, de São Jorge, do Pico e Faial, quando o capitão do navio deu a boa nova de uma revolução, há muito desejada.

A maior parte do pessoal em que me incluía, estava no convés do navio, atarefado nos preparativos para a faina que se avizinhava dentro de dias, preparando os dóris, adaptando-os cada um ao seu modo, dando-lhe um nome, preparando os motores fora de borda que tinham trazido dos botes que utilizavam na pesca nos portos de onde eram oriundos. Noutros tempos mais difíceis, eram as velas que preparavam, agora era tudo a motor. Alguns não tinham motor próprio e o navio fornecia-lhe.

Foi uma algazarra imensa, uma euforia desmedida, um viva Portugal, abaixo a ditadura! O capitão manifestou igualmente a sua satisfação e deu ordem ao cozinheiro para daí em diante passar o comer a ser igual para todos, isto é, dois pratos.

Durante o período da ditadura, o pessoal de ré (os oficiais) tinham direito a comer, sopa, prato de peixe, prato de carne e sobremesa, enquanto o pessoal da prôa (mestrança e marinhagem) comiam sopa e um prato de peixe ou de carne alternadamente ao almoço e/ou ao jantar e sobremesa só à quinta e domingo, consoante os navios, nalguns era só ao domingo.

A ordem teria sido boa se previamente o capitão se tivesse informado com o cozinheiro da possibilidade de poder fornecer esta duplicação de refeições, quer em géneros quer em trabalho para o pessoal da cozinha. Foi uma medida precipitada que criou um precedente jamais sanado e que mais tarde o capitão veio a reconhecer que foi um erro, fruto da sua euforia e da vontade que sempre tivera em que a comida fosse igual para todos em especial para aqueles que mais se desgastavam fisicamente – os pescadores.

O capitão, para nos manter informados enquanto se trabalhava no convés, ligou o rádio ao altifalante que dava para a prôa para ouvirmos as notícias intercaladas com música de intervenção, comentando de vez em quando os acontecimentos. Assim passamos o canal de São Jorge e rumamos a St. John´s da Terra Nova, contrariamente ao que estava destinado antes que era ir diretamente para a pesca no Banquereau ou Saint Pierre. As medidas precipitadas assim o obrigavam, era necessário meter mais mantimentos e mais um ajudante de cozinha, porque as refeições quadruplicaram.

Naquele dia à noite o capitão teve uma surpresa quando estava à mesa a jantar. O cozinheiro veio informar que o pessoal da prôa tinha rejeitado o prato de peixe, constituído por pescada cozida com batatas e hortaliça, dizendo que aquilo não era comida que se desse a um homem. Ficaram acalmados por que o prato de carne era bife com batatas fritas, mas que alguns estavam a reclamar uma segunda dose quando ele só tinha contado com um bife para cada um. O capitão pediu-lhe que tentasse resolver o problema da melhor forma possível, indo o cozinheiro para a prôa apreensivo, sem saber como iria dar a volta à situação, pois por aquele andar não tinha sequer mantimentos para chegar a St. John’s.

Um dia depois de passarmos os Açores, na noite de 26 para 27, estava de serviço de navegação na ponte, o vigia veio-me informar que à proa estava tudo bêbado, tinham rebentado com o cadeado do paiol dos mantimentos, feito «Champarrion», cortado os presuntos e andavam à pancada uns contra os outros, ninguém se entendia. Chamei o capitão e dei-lhe conhecimento do panorama que o vigia me tinha descrito. Como responsável pela disciplina coube-me a tarefa de ir à prôa analisar a situação e tentar apaziguar os ânimos. Escusado será dizer que a situação era caótica e insustentável, sem controle possível. Dirigi-me à ponte informar o capitão do barril de pólvora que estava rastilhado. Foi a vez do capitão tentar ir impor a sua autoridade, como responsável máximo do navio.

Eu era um jovem imediato de 26 anos, o capitão era um veterano com mais de 50 anos, esperava-se que obedecessem às ordens dele, ainda para mais que ele tinha demonstrado ser um camarada quando tomou a decisão da comida passar a ser dois pratos, igual para todos. Chamaram-lhe de tudo, só faltou baterem-lhe! Veio muito perturbado, chorou, disse que não merecia o que ouviu, principalmente de alguns que nunca imaginara pudessem maltratá-lo, pelo muito que tinha feito por eles. Tentei acalmá-lo e fui deitá-lo.

Continuei no meu posto de navegação, enquanto o navio singrava as águas frias do oceano naquela noite escura a caminho da Terra Nova e meditava naquilo que se tinha passado e transpondo para o país imaginava cenários idênticos, como mais tarde vim a saber aconteceram.

Não era isto que eu queria para o meu país, quando antes lutava pela liberdade contra a opressão e o obscurantismo. Esperava liberdade dentro dum cenário de ordem e respeito de uns para com os outros dentro do seu estatuto e função. Não era isso que estava a acontecer e que se iria passar no futuro como terei oportunidade de contar noutra ocasião.(Continua)

 

Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 15/05/2014

 

Viana do Castelo, 25 de abril de 2014

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

 

 

 

 

 

 

publicado por dolphin às 18:06

20
Dez 13

 

 

No dia 10-07-1948 era assim a multidão a assistir à cerimónia de flutuação dos três primeiros navios construídos nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo - Senhor dos Mareantes e Senhora das Candeias, para a Empresa de Pesca de Viana, e São Gonçalinho, para a Empresa de Pesca de Aveiro.

Neste ano celebrava-se o centenário da elevação de Viana a cidade e este evento foi integrado nas comemorações. Neste mesmo ano outro acontecimento viria a marcar significativamente a vida marítima de Viana do Castelo - O naufrágio do lugre bacalhoeiro «Gaspar» da Sociedade Novas Pescarias, que assim se via privada de navios e impossibilitada de continuar a atividade. Viana ficava mais pobre por este motivo, mas mais engrandecida pela esperança que depositava nos recentemente formados Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

Passados quase 70 anos o panorama social, económico-financeiro e visual é desolador. Há estaleiros mas não há navios. Há homens mas não há trabalho. Há encomendas mas não há vontade de as por em marcha. Há potencial para avançar mas não há querer.

O dia 16-12-2013 ficará célebre na história da cidade de Viana do Castelo, pela saída do último navio construído nos maiores estaleiros de construção naval ainda existentes em Portugal. Quem construirá os navios que o país vai precisar no futuro para gerir o gigantesco espaço marítimo que detém? Vão ser precisos navios oceanográficos e outros tecnológicamente sofisticados para prospetar e operar as enormes riquezas contidas dentro da área geográfica da ZEE, uma das maiores do mundo, com uma área equivalente a 19 vezes a área continental e com possibilidades de ser aumentada para 40 vezes, ou seja para cerca de 4.000.000 Km2.

 

 

 

A construção naval tem de ser dirigida para estas novas áreas oceânicas, com tecnologias inovadoras, mas também para atender aos mercados dos PALOP's, com necessidades de defesa emergentes. Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, não podem desperdiçar esta oportunidade de se afirmarem neste mercado cobiçado por outras nações europeias e não só. É urgente começar já a preparar-se para os desafios que se vislumbram a médio prazo no futuro. É necessário reformar o setor da construção naval em Portugal, dando formação aos quadros e pessoal numa perspetiva tecnológicamente mais evoluída e virada para novos tipos de embarcações que virão a ser necessárias para atender os desafios que esta vasta área oceânica vai exigir. Por outro lado, gradualmente, e enquanto se vai modernizando e preparando para dar andamento às solicitações que o mercado vai exigir, existe o mercado dos países de expressão portuguesa, dentre os quais se destaca Angola e Moçambique, com vastas extensões costeiras e áreas enormes de ZEE's, que necessitam de ser vigiadas e defendidas da cobiça internacional pelas potencialidades geológicas, piscícolas e económicas que possuem.

O horizonte não está assim tão carregado de nuvens que se avizinhe uma tempestade que destrua tudo. Algum temporal terá de ser suportado para reconverter tecnológicamente o setor e adaptá-lo aos novos desafios, tornando-o competitivo e rentável. Alguns trabalhadores terão de ser «sacrificados» para atingir o nível e desiderato ajustado à realidade momentânea, por forma a manter um suporte necessário para competir no mercado. Essa «sangria», necessária ao equilíbrio competitivo, não pode em circunstância alguma ser feita com prejuízo para os trabalhadores. Deve ser efetuado um estudo caso a caso, pondo sempre acima de tudo o fator humano e sócio-económico de cada agregado dependente do trabalhador em análise.

 

 

De há vinte anos para cá os estaleiros teem dado prejuízo, que tem sido suportado pelo erário público (por todos nós). Este cenário, mais tarde ou mais cedo tinha que ter um fim, era insustentável e impeditivo do crescimento e reconversão do tecido produtivo. Só pessoas pouco escrupulosas e sem a noção da realidade o podiam defender. 

É necessário encarar a situação com fé, mas sobretudo com firmeza. Se não acreditarmos nem vale a pena começar. Os antecessores, como João Alves Cerqueira, Vasco d'Orey, Jacques de Lacerda, Luis Lacerda, acreditaram e venceram, apesar da situação económico-financeira da empresa estar em certos casos e em certas alturas muito difícil. A convicção e perseverança (firmeza) com que enfrentaram as crises foram determinantes para as ultrapassarem.

Exige-se que os governantes dotem a empresa dos meios necessários à reestruturação do setor, fiscalizem as ações daqueles que detem a missão de gerir, sem intervir, mas atuando sempre que se verifique qualquer desvio que ponha em perigo a prossecução dos objetivos traçados. Aos trabalhadores exige-se que cumpram a sua missão e zelem pelos interesses da empresa, e a defendam em todas as circunstâncias(legais) dignificando a sua imagem, trabalhando por amor à causa, que o mesmo é dizer, dignificando e lutando pela sustentabilidade do seu posto de trabalho, auferindo um salário justo e equilibrado dentro do horizonte da empresa.

O mundo está em mudança. O homem é o agente dessa mudança. Cabe a cada um de nós contribuir duma forma séria, honesta e empenhada para tornar este mundo melhor, mais justo, mais igual, menos desiquilibrado, onde apeteça viver.

publicado por dolphin às 21:32

01
Set 13

Esta manhã entrou no porto de Viana do Castelo o navio de passageiros «Minerva» numa visita curta de algumas horas.

Arredado das lides marítimas há alguns anos, mantenho ainda o «bichinho» que, quando vejo um navio a manobrar, não resisto à tentação de tirar umas imagens para mais tarde recordar.

Faltava-me a máquina que por hábito costumo trazer no carro para registar acontecimentos, pessoas, paisagens, etc., que me chamam à atenção. Na falta dela serviu o telemóvel com o qual tirei as imagens que vos mostro e que não são de grande qualidade mas servem para ilustrar o texto que escrevo.

 

 

 Enquanto tirava as fotografias lembrei-me duma ideia antiga que me ocorreu, ainda Leixões nem sonhava com os cruzeiros e o terminal, precisamente quando o navio «Funchal» veio em visita a Viana do Castelo. Já lá vão mais de dez anos, seguramente.

A ideia era simples e viável. Incentivar a vinda de pequenos paquetes, até 180 metros de comprimento, durante os meses de Verão, numa parceria de autoridades portuárias, municipais, regionais, envolvendo os agentes de viagens o turismo e o comércio, numa operação integrada.

 

 

 

As potencialidades são muitas, precisam de ser bem divulgadas e exploradas. Numa primeira fase pode ser aproveitado o cais comercial para arranque do serviço. Posteriormente, e num curto prazo, (1, 2 anos no  máximo) a construção de um cais na margem direita, como estava previsto no projeto inicial do porto de Viana do Castelo.

 

 

 

 

Viana do Castelo merece e precisa que o poder central e as autoridades regionais e locais se interessem pelo aproveitamento das potencialidades existentes em belezas naturais, gastronomia, arquitetura, arqueologia e qualidade ambiental.

As carências da região, a todos os níveis, teem de ser olhadas na perspetiva de melhoria de vida das populações locais, sem a qual não é possível fixar as pessoas a que o êxodo para outras paragens vai cada vez mais empobrecendo.

 

Leixões está a ser dotado de um terminal de cruzeiros que vai custar mais de cem milhões de euros, Portimão vai aumentar o cais para receber mais navios de cruzeiros e em Lisboa vai ser feito um monumental terminal de cruzeiros em Santa Apolónia.

Um cais na margem direita do rio Lima, (na zona do atual pontão de embarque/desembarque dos «ferries») simples e aberto, para deixar as correntes fluirem livremente, não seria muito dispendioso.

Apelo a todos, em especial às autoridades interessadas no desenvolvimento sustentado desta bela região (Alto Minho) para que deem as mãos e, paralelamente à implementação deste serviço, exijam ao poder central a feitura desse cais que há muito devia ter sido construído.

 

 

 

 

 

publicado por dolphin às 17:43

23
Out 11

O Rancho do Monte, de Vila do Conde, com o apoio da Junta de freguesia e Câmara Municipal daquela cidade, fizeram a evocação do centenário do naufrágio do cruzador «São Rafael», ocorrida no dia 21 de Outubro de 1911.

 

 

 

No dia 21 deOutubro de 2011, dia do centenário, realizaram-se diversos eventos: - Missa e descerramento de placa evocativa, romagem ao cemitério e inauguração de uma exposição evocativa, no salão de festas do Rancho do Monte, que estará patente ao público até ao fim do ano, que aconselhamos a visitar.

 

 

No Auditório Municipal, no dia 22, teve lugar o lançamento do livro «Cruzador São Rafael - Evocação do Centenário do Naufrágio - 1911-2011», da autoria de Albino Gomes, seguido de um colóquio/palestra moderado por este, em que diversos(as) oradores(as) abordaram o tema do naufrágio à luz da imprensa local e nacional à época do acontecimento, e a sua repercussão a nível local e nacional nas populações e no país.

 

 

As comemorações fecharam em apoteose com a representação de uma pequena peça de teatro, numa tentativa de reproduzir o naufrágio, pelo grupo de Teatro Amador do Círculo Católico Operário (TACCO), que foi calorosamente aplaudida pelo grande número de pessoas que assistiram aos três eventos realizados no Auditório Municipal de Vila do Conde.

publicado por dolphin às 17:52

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