Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

06
Fev 16

 

 

Quando jovens ansiamos que o tempo passe rápido. Recordo-me como queria que o Natal chegasse depressa. É em dezembro que faço anos, ficava um ano mais velho, mas, as prendas no sapatinho, a festa em família, deslumbravam-me e marcaram sem dúvida (e ainda marcam) a minha relação com o tempo.

À medida que os anos foram passando a dimensão temporal foi-se modificando consoante as circunstâncias.

Primeiro foram os estudos. Quando começava o ano escolar pensava que ainda faltava tanto tempo até ao final do ano; quando faltava um mês para os exames desejava que o tempo esticasse a fim de ter tempo de rever matérias que tinha descuidado no tempo próprio.

 A ânsia de terminar o curso e começar a trabalhar para ganhar dinheiro e não depender dos pais, foi outra época que passou na minha vida.

Os objectivos sociais superam o tempo: casamento, nascimento do 1.º filho, do segundo…, surgem os compromissos com a educação deles, a procura da estabilidade financeira, sucessões de comprometimentos que levam o tempo a escassear.

A epidemia da nossa sociedade é a fome de tempo, cada vez temos menos tempo para deixarmos fluir o nosso Eu – o tempo metafísico – em que a verdade conquista o tempo.

Quando menos esperamos passou-se uma vida, vem a aposentação e, habituados a consumir o tempo (ou a sermos consumidos por ele) não sabemos o que fazer com ele e damos por nós a procurar formas de passar o tempo cada um à sua maneira e segundo a sua consciência temporal.

Tentamos enganar o tempo (ou nos enganarmos), com ócio ou com trabalho, na ilusão de ficarmos com a sensação que o tempo passa depressa, mas já não queremos que passe, vivemos com ansiedade quando devíamos viver em paz e com serenidade.

Vivemos uma vida a enganar o tempo, não permitindo que ele flua naturalmente, sem pressões nem medos que só nos criam tensões que o nosso organismo não aguenta (daí as doenças). É costume dizer-se que as mazelas surgem no fim da vida, é um facto, são fruto das tensões acumuladas que o organismo não conseguiu expurgar por que já lhe falta a força com que foi enganando o tempo.

Muitas vezes, quando o tempo está bom, vejo o senhor Joaquim Ribeiro, um anfitrião com 104 anos, (se fosse vivo o meu pai teria a mesma idade) que admiro e respeito, a caminhar no molhe da Praia Norte e penso: - este senhor não enganou o tempo, deixou que ele fluísse naturalmente, sem tensões nem medos que o afetassem. Se o meu pai não tentasse enganar o tempo devido às pressões, angústias e receios, motivados pelas contingências da vida, ainda hoje poderia estar vivo como o senhor Ribeiro.

Não adianta enganar o tempo – a Verdade é eterna.

 

 Viana do Castelo, 2016-01-10

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

 

publicado por dolphin às 18:57

05
Set 15

Todos os dias somos confrontados nos meios de comunicação com notícias de violência desmedida e injustificada, com origem, muitas vezes, em razões fúteis, que degeneram em agressão e/ou em morte.


Este surto de violência tem vindo a aumentar nos últimos tempos, é preocupante e merece das autoridades uma atenção redobrada e um inquérito às causas que estão na sua origem.


Sempre ouvi dizer que se deve exterminar o mal pela raiz, expressão com a qual concordo plenamente. Não se deve negligenciar os princípios básicos que regem a sociedade sob pena de se perder o controlo dessa mesma sociedade.


A educação está na base de tudo o que se é na vida. Nela reside a essência da sociedade que construímos. A educação não suporta negligência e tolerância, antes pelo contrário, exige disciplina e rigor que é muito diferente de prepotência e brutalidade.


É no «berço» que se criam e perpetuam para a vida os bons hábitos, que a escola deve complementar, e corrigir nos casos desviantes de conduta atípica motivados pela falta de carinho, atenção e amor, que não foram ministrados no «berço».


Os casos de violência que têm vindo a lume revelam que a sociedade está enferma e precisa urgentemente de ser tratada dos males que padece.


A polícia, entidade do Estado de direito, tem como missão principal garantir a segurança de pessoas e bens.


Não querendo fazer julgamentos prévios ao oficial de polícia que foi protagonista dos inqualificáveis incidentes ocorridos no dia 17 de maio, no final do jogo entre o Guimarães e o Benfica (penúltimo jogo da 1.ª liga de futebol) que terminou com um empate a zero, nem tão pouco classificar a Instituição de Polícia por este ato tresloucado de um dos seus agentes, não posso deixar de mais uma vez apelar ao legislador para rever as regras de admissão e progressão dos agentes de autoridade, submetendo-os a exames psicotécnicos imprescindíveis para o exercício da profissão que envolve o contacto com seres humanos possuidores dos mais díspares carateres  e personalidades.


Os órgãos de comunicação social, céleres em dar a notícia em primeira mão para captar audiências, também precisam de aprender e ponderar, quando e como, devem dar a notícia para evitar o despoletar de situações como as que se viveram no Marquês de Pombal. É preciso ter consciência do acendimento do rastilho, para evitar situações desagradáveis como aquelas que se viveram na noite dos festejos do título na zona do Marquês de Pombal, que podiam ter sido muito mais graves.


Outro caso que se prende com a violência e que merece também muita atenção da parte do legislador, é o caso do sargento com baixa psiquiátrica, que possuía um arsenal de 30 armas das quais 29 estavam legalizadas, a única que não estava foi a que originou o crime que vitimou o gerente da pastelaria de Benfica. Um militar perfeitamente identificado e com cadastro, com baixa psiquiátrica, não pode andar à solta nem ter acesso a uma arma muito menos a trinta.


Somos aquilo que criamos, para o bem ou para o mal. Não basta ter pão é preciso ter educação, ferramenta primordial em toda a estrutura do ser humano enquanto membro de uma sociedade sadia e culturalmente evoluída.


Viana do Castelo, 2015-05-20

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

Publicado no jornal «A Aurora do Lima», 2015-06-18, nº 22 , Ano 160
publicado por dolphin às 20:41
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