Blog que retrata os acontecimentos do mar e porto de Viana e arredores, nos bons e maus momentos, dos pequenos aos grandes senhores.

01
Jul 14

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL (2)

 

St. John´s é o porto mais conhecido e acarinhado pelos pescadores portugueses da pesca do bacalhau. Fica situado na península de Avalon na ilha da Terra Nova. É uma baía ampla, capaz de albergar uma frota como a «frota branca»[1] noutros tempos e protegida das intempéries, com uma abertura profunda e estreita entre dois montes. Pela sua posição central relativamente aos pesqueiros, e pela segurança que oferece, os capitães dos navios bacalhoeiros portugueses e doutras nacionalidades preferem-no, devendo-se por tal motivo o seu desenvolvimento.

 

 

Em consequência dos acontecimentos ocorridos a bordo do S. Jorge, como tivemos ocasião de descrever anteriormente, o navio teve de arribar a St. John´s para abastecer de víveres e meter um ajudante de cozinha, necessário para ajudar o pessoal da cozinha nas tarefas redobradas da preparação das refeições nos moldes estabelecidos pelo capitão – sopa, prato de peixe, prato de carne e sobremesa – para toda a tripulação, de cerca de setenta homens.

O navio permaneceu em St. John´s uma semana, a ultimar estes preparativos para não ter que interromper a pesca, o que permitiu ao pessoal telefonar para as famílias e inteirar-se do que se estava a passar em Portugal.

Saímos de St. John´s para a pesca diretos ao pesqueiro Banquereau que fica na costa da Nova Escócia, onde se situa o porto de Halifax, outrora utilizado pelos navios portugueses quando operavam naquela zona.

Na viagem de navegação, um pescador que ía ao leme, disse-me convicto: -Sr. Imediato, isto agora vai mudar, a minha mulher disse-me que os pobres vão passar a ser ricos e os ricos vão ter de dar aos pobres, quem me dera estar lá agora. Estou desejoso que a viagem termine para chegar a Portugal. Só tenho medo de chegar tarde e outros apanharem tudo!

Ah! – disse eu, curioso para saber mais, e perguntei?

- Então como é que isso vai ser feito? Também estou interessado!

 

 Esta era a ideia que ocupava a mente da maioria dos pescadores, distorcida da realidade pela boca dos familiares, que gerou entre as tripulações dos navios que se encontravam na faina, confusão e ansiedade.

A ameaça da aproximação de um ciclone, levou os três navios da pesca à linha, de arribada[2] para o porto francês de Saint Pierre, na ilha do mesmo nome situada na foz do rio S. Lourenço, outro porto querido das tripulações portuguesas, por ser mais latino.

Passados dias, o ciclone passou mais pelo Norte, rumo ao Labrador e era tempo de regressar à pesca. A permanência em terra durante quase uma semana permitiu o contacto com as famílias, como habitual e salutar, mas também se notou a influência política, a perturbar a unidade do grupo, tornando-os confusos e ansiosos e não esclarecidos.

Uma fação não queria sair para a pesca mas pretendia que o navio fosse direto para Portugal, enquanto outra, minoritária em relação à primeira pretendia continuar a pescar, invocando o sustento das famílias. Neste confronto se mantiveram sem chegar a acordo. O piloto da barra chegou a vir a bordo para dar saída ao navio por 13 vezes e da última vez afirmou que enquanto não houvesse um consenso para sair não viria a bordo. O capitão e restantes oficiais eram impotentes perante tal situação e temiam o pior, um confronto físico entre os grupos. Fui encarregado, devido à minha função, de tentar apaziguar os ânimos e encontrar uma solução que satisfizesse as duas partes.

Não sei explicar o que demoveu ou motivou as duas fações. Sei que consegui que se abraçassem e esquecessem as divergências e pudéssemos sair para a pesca. Pescamos primeiro no banco S.Pierre, depois nos espalcos[3] e por fim nos Virgin Rocks[4], compondo o porão apesar dos dias perdidos em terra.

 

 Um dia pela manhã, ao arriar[5], o mar estava chão, o São Jorge estava fundeado por Leste do Mano leijo[6] e o Ilhavense do mesmo lado no Sado leijo e o Novos Mares pescava no Eastern Shoal[7], o capitão do Ilhavense chamou por socorro dizendo que o navio estava a arder com fogo a bordo na casa da máquina. Os dois navios, São Jorge e Novos Mares, suspenderam e rumaram para a posição onde se encontrava fundeado o Ilhavense. Quando o São Jorge lá chegou passado pouco mais de meia hora (o tempo de suspender e navegar cerca de uma milha), encontrou todos os botes e as jangadas salva vidas na água, e o navio Ilhavense envolto numa fumarada. Foi só começar a recolher os botes enquanto o Novos Mares que estava mais distante, cerca de 5 milhas, chegava e procedia igualmente noutra ponta a içar os botes.

Depois de todos salvos, a pedido do capitão do navio incendiado, os capitães dos outros dois navios salvadores, aguardaram que o navio fosse para o fundo, sinal de que não ficaria à deriva e constituísse um perigo para a navegação e o capitão fosse acusado de ter abandonado o navio naquelas condições.

Os dois navios rumaram a St. John´s, distante cerca de 6 horas de viagem, a fim de descarregar os náufragos. (Continua)

 

Publicado no jornal «A Aurora do Lima» em 22/05/2014

 

Viana do Castelo, 2014-04-28

Manuel de Oliveira Martins

maolmar@gmail.com

 

 

 



[1] White Fleet – Frota Branca – Nome por que era conhecida a frota portuguesa da pesca à linha, devido os navios serem todos pintados de branco, para melhor serem identificados durante a 2.ª Guerra Mundial.

[2] Arribada – ida para terra por motivo de avaria, doença ou mau tempo.

[3] Espalcos - pesqueiros

[4] Virgin Rocks - pesqueiros

[5] Arriar – largar os botes na água

[6] Leijos – pedras onde o bacalhau se concentra (Mano, Sado, etc)

[7] Eastern Shoal – pesqueiro que fica 5 milhas por Leste dos Virgin Rock’s

publicado por dolphin às 22:35

18
Mar 11

 

 

 

É já no próximo dia 1 de Abril que a Fundação Gil Eanes vai ser palco de mais um evento relacionado com a pesca do bacalhau. Desta feita, trata-se do lançamento da 2.ª edição do livro «Faina Maior - A pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova».

Há muito que se esperava por esta edição, já que a primeira cedo se esgotou, com pena de muitos que não puderam adquirir essa maravilhosa e empolgante obra contada na primeira pessoa pelo saudoso capitão Francisco Marques em co-autoria com a Dra. Ana Maria Lopes que agora resolveu fazer uma segunda edição melhorada no visual e grafismo.



Os amantes da «Faina Maior», têm agora oportunidade de adquirir este livro que relata as vivências da pesca do bacalhau nos «mares do fim do mundo» como escreveu Bernardo Santareno, o médico e escritor que também pode ser revisto através duma exposição no navio Gil Eanes, onde se encontra, nem de propósito, outra exposição sobre os navios da pesca do bacalhau de Viana do Castelo.

A cerimónia do lançamento do livro, realiza-se no dia 1 de Abril pelas 17.00 horas, é aberta a todos que queiram assistir e matar saudades desses tempos idos, e o livro estará à venda pelo preço de lançamento, 20 €, oportunidade a ter em conta já que posteriormente o preço de venda será de 25 €.

publicado por dolphin às 23:28

09
Jun 10

SALVO PELA FONIA

 

Um caso insólito ocorreu em 1945 em Viana do Castelo, quando o conceituado médico oftalmologista Dr. Carlos Souto Morais, com consultório em Viana do Castelo, salvou de ficar cego o capitão do navio bacalhoeiro “Groenlândia”, sr. Manuel Viana, pessoa muito conhecida e estimada nesta cidade.

O navio “Groenlândia” encontrava-se no alto mar e o capitão, após ter dirigido as manobras de bordo, possivelmente cansado pelo esforço dispendido, foi-se deitar com a roupa molhada, tendo sido acometido de cegueira súbita, devido a resfriamento.

Perto do ”Groenlândia” encontrava-se o navio a motor “São Rui”, propriedade da Empresa de Pesca de Viana, do comando do capitão Aquiles Gonçalves Bilelo que, sabendo da existência em Viana do Castelo de um oftalmologista competentíssimo, como era o Dr. Souto Morais, contactou com o navio “Santa Maria Madalena” que se encontrava já em Viana do Castelo, depois de ter regressado da campanha daquele ano mais cedo, por ter sido escolhido para chefiar um comboio de navios, pedindo-lhe ajuda.

Atendeu o pedido o sr. capitão José Águas Ferreira dos Santos da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau que nessa altura se encontrava a bordo e que imediatamente estabeleceu contacto com a empresa, encontrando o sr. João Alves Cerqueira, a quem contou o sucedido e este, num gesto de humanismo e solidariedade, próprios da sua pessoa, disponibilizou o seu automóvel a fim de ir buscar o Dr. Souto  Morais, para através da rádio T.S.F. do navio, fazer o diagnóstico do estado de saúde do capitão do “Groenlândia” e tomar as medidas que julgasse mais adequadas, para minimizar os efeitos daquela cegueira súbita que ocorrera ao capitão Manuel Viana.

Um dos primeiros jornais a ter conhecimento deste acontecimento e a dar a notícia foi o “Diário de Notícias”, através do seu correspondente nesta cidade, o senhor João da Rocha Páris Vasconcelos, que no dia 25 de Outubro, logo pela manhã, se dirigiu a bordo do “Santa Maria Madalena”, onde foi recebido pelo capitão José Águas Ferreira dos Santos, pelo 1.º maquinista sr. José Rocha e pelo sr. António Gonçalves Viana, empregado da Empresa de Pesca de Viana, para saber notícias do estado de saúde do capitão do “Groenlândia” e da reacção ao tratamento prescrito na véspera pelo dr. Souto Morais.

Aqueles cavalheiros amavelmente convidaram-no a comunicar via rádio com o capitão do navio “São Rui”, Aquiles Gonçalves Bilelo que lhes deu a boa notícia da recuperação da visão do capitão Manuel Viana.

Este foi o primeiro tratamento médico efectuado desta cidade através da T.S.F. Questionou-se na altura a falta de uma estação de T.S.F. para atendimento de apelos semelhantes feitos pelos navios no alto mar, a instalar na Estação de Pilotos ou na Capitânia.

 

Fontes:

A Aurora do Lima : 30-10-1945

 

Viana do Castelo, 2010-06-09

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 21:55

25
Mai 10

LUGRE "BRILHANTE"

 

O lugre "Brilhante" foi construído nos estaleiros da Companhia Marítima de Transportes e Pesca, no Largo 5 de Outubro, pelo construtor naval sr. José Lopes Ferreira Maiato, para a Sociedade Vianense de Cabotagem, Lda., pela quantia de 20.000$00.

Esta sociedade era constituída pelos srs. Jerónimo Vieitas Costa, Rodolfo Vieitas Costa, João Alves Cerqueira, José António de Matos e pela firma Magalhães & Filhos, Lda.

O lugre "Brilhante" foi lançado à água no dia 05-05-1921 e teve como primeiro comandante o Capitão da Marinha Mercante José Bixirão, de Ílhavo. O navio tinha as seguintes características: Tab - 350,670 tons ; Tal - 312,980 tons;Lpp - 47,25 m; Boca - 9,97 m ;Pontal - 3,82 m. Devido ao avançado do tempo para apetrechar e fazer o abastecimento de mantimentos e sal, não fez a campanha de 1921, aproveitando para fazer algumas viagens comerciais até à campanha do próximo ano.

Foi registado na Capitânia do Porto de Viana do Castelo no dia 7 de Junho de 1921, para o transporte marítimo, com armação de lugre de três mastros. Segundo averbamento de 27-03-1922 exarado no registo, passou nesta data a pertencer à Sociedade Nacional de Pesca, Lda. e, de acordo com a comunicação n.º 286 de 06-03-1924 da Capitânia do Porto de Aveiro passou a ter novo registo naquela praça com o nome de "Condestável".

Como era costume nos "bota-abaixo" dos navios naquela época, foi um acontecimento que mobilizou a afluência de um grande número de pessoas provenientes das redondezas. O cabo que prendia o navio ao berço, foi cortado pelo sr. Fernando Costa de Lisboa, gerente da casa Vieitas & Cia.

À noite, no restaurante da sra. D. Margarida de Lemos Pereira, a "Margarida da Praça", foi servido um lauto banquete aos mais íntimos amigos dos societários e em que participaram algumas senhoras.

De realçar o ressurgimento do "Restaurante da Praça que teve a melhor tradição como uma das casas de maiores primores culinários...". O restaurante foi gerido por outras direcções, mas retomou a direcção da sua primitiva proprietária.



 

Restaurante "Margarida da Praça"

 

A D. Margarida de Lemos Pereira, presenteou os convivas com uma lista genuinamente portuguesa, reavendo os seus antigos créditos, com um serviço primoroso.

A festa prolongou-se noite dentro com brindes e homenagens aos societários da empresa.

 

Fontes :

"A Aurora do Lima" - 13-05-1921

Capitânia do Porto de Viana do Castelo -Livro de registo de navios n.º 5

 

Viana do Castelo, 2010-05-25

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 22:37

18
Mai 10

O SEGUNDO SANTA LUZIA

 

Como referimos atrás, a direcção da Companhia Marítima de Transportes e Pesca, liderada pelo sr. Joaquim Soares, pôs em execução a construção, nos estaleiros da companhia, de uma nova unidade destinada à pesca do bacalhau.

Os trabalhos de construção estiveram a cargo do prestigiado mestre de construção naval sr. José Lopes Ferreira Maiato, e o navio foi concluído em escassos oito meses de trabalho intenso, com o fim de efectuar a campanha de 1921.

O navio apresentava as seguintes características:

Tonelagem de arqueação bruta (Tab)       = 325,99 toneladas

Tonelagem de arqueação líquida (Tal)      = 261,92      "

Comprimento entre perpendiculares (Lpp) = 48,10 metros

Boca (1) =  9,93 metros

Pontal (2) =  3,90 metros

Equipagem                                            = 43 tripulantes

O lugre "Santa Luzia" foi lançado à água cerca das 16.00 horas do dia 10-04-1921, domingo, nos estaleiros do Campo da Feira perante um mar de gente que aí afluiu, vinda das aldeias, em bandos alegres, para assistir ao "bota-abaixo", coisa nova para a maioria delas.



 

"Bota-abaixo" de um navio nos estaleiros do Campo da Feira

 

Era uma autêntica romaria,fazendo antever a Romaria d'Agonia "Aqui e alli, grupos de camponezas com trajes da região, cantavam e dançavam ao som da viola dedilhada por um rapagão...", assim se referia "A Aurora do Lima" a tão extraordinário evento para a cidade, onde também a alta sociedade e a juventude (feminina) participava, como se depreende pela referência "O Lima estava lindo. As suas águas, límpidas e serenas, mostravam assim como que um contentamento inesperado. Pudéra!... pois se vogavam sobre ellas pequenas embarcações conduzindo formosos palminhos de cara, que, para mais as envaidecerem, faziam das mesmas águas espelho para se verem!...".

Nesse dia de "bota-abaixo" era permitida a visita ao navio a todos sem excepção e a empresa proprietária do navio, contratava bandas filarmónicas e ranchos folclóricos para abrilhantar a festa como se percebe pela descrição, "De um lado, na estrada, um grupo de lindas cachopas dançavam o vira, ao som da philarmonica que junto ao escritório da Companhia se fazia ouvir para mais animar a cerimónia do lançamento".

Neste clima de festa se viviam os lançamentos à água dos navios nesses primórdios do Século XX. A mais alta sociedade vianense participava activamente ostentando a sua riqueza e estatuto social, cujo espelho disso, se comprova por, "Nas janellas dos prédios vizinhos, distinctas senhoras ostentavam vestidos pesados, próprios da sua edade e da sua posição, umas ostentando os seus lorgnons,(3) outras primaverilmente vestidas..."

 

Glossário:

(1) Boca - Largura máxima

(2) Pontal - Altura da quilha ao convés

(3) Lorgnon - Luneta com cabo

 

Fontes: A Aurora do Lima: 12-04-1921

Viana do Castelo, 2010-05-18

Manuel de Oliveira Martins

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16
Mai 10

COMPANHIA MARÍTIMA DE TRANSPORTES E PESCA

 

A Companhia Marítima de Transportes e Pesca, S.A.R.L., sucedeu à extinta parceria de Pescarias de Viana, que durante 7 anos desenvolveu a indústria da pesca do bacalhau.

A Pescarias de Viana já vinha desenvolvendo outras actividades para além da pesca do bacalhau (seu fim prioritário), como a construção naval com os Estaleiros do Largo 5 de Outubro ou do Campo da Feira, e os transportes com o primeiro navio de nome "Gaspar", construído nesses mesmos estaleiros.

A nova companhia, que agora surgia, assentava nas bases da anterior Pescarias de Viana, mas integrava um grupo de accionistas da cidade do Porto e Viana. Entre eles estavam a casa Pinto & Sotto Maior, Cândido Sotto Maior, Joaquim Soares, Adelino Cardoso, Abílio Azevedo, dr. Rendeiro, dr.Correia de Barros e João Baptista Ferreira que geriu de forma eficaz a anterior empresa de pescarias.

Entre eles subscreveram o capital social de 1.000 contos com que iniciaram a sociedade, podendo esse capital elevar-se até 5.000 contos, caso houvesse necessidade, fruto das oportunidades de negócio.

O objectivo da companhia, relativamente à anterior parceria, era alargado, visando englobar as actividades da construção naval e dos transportes marítimos.

A nova empresa elegeu os corpos sociais, ficando como directores os srs. Joaquim Soares, Adelino Cardoso, representantes da casa Pinto & Sotto Maior, a designar, e João Baptista Ferreira. Como gerente ficou o sr. Camilo Sá Pinto Sotto Maior. Ao Conselho Fiscal ficaram a pertencer nomes da cidade do Porto e Viana, tais como, António Gonçalves da Silva Carvalho, drs. Gabriel Fânzeres, Martins Delgado e Manuel Martins do Couto Viana.

Ficaram a pertencer à nova companhia quase todos os sócios da anterior parceria Pescarias de Viana que conjuntamente com os novos elementos e o capital aumentado levantarão a nova empresa.

No momento da constituição da firma, Julho de 1920, já se encontrava na Terra Nova o lugre "Rio Lima" recentemente construído e também adquiriram para o transporte marítimo o lugre "Nuno Álvares" que podia transportar mil toneladas de carga e tinham em construção nos seus estaleiros do Campo da Feira, um novo lugre, o segundo "Santa Luzia", para a pesca do bacalhau.

As três actividades propostas nos objectivos da empresa, estavam todas em laboração, razão suficiente para os accionistas estarem satisfeitos e expectantes.

Os bons resultados desta companhia reflectiram-se de imediato nos primeiros anos do exercício, possibilitando a distribuição pelos accionistas, do pagamento de dividendos. No primeiro ano, foi determinado em Assembleia Geral, realizada na sede da companhia, à Praça da Liberdade, n.º 28, 3.º no Porto, a distribuição de dividendos pelos accionistas no valor de 8$00 por acção. Nesta mesma reunião foi eleito um novo director, o sr. Amador Valente, em substituição do sr. Adelino Cardoso que por motivo de falta de saúde pediu a sua exoneração.

No ano seguinte, 1923, em consequência das boas campanhas feitas pelos navios, "Santa Luzia" e "Rio Lima" e das boas vendas, foi possível distribuir pelos accionistas um dividendo de 10 escudos por acção.

A companhia estava de boa saúde, e mais uma vez em meados de Abril, o "Santa Luzia" e o "Rio Lima" partiam para Lisboa para abastecer de mantimentos e sal e seguirem viagem para os bancos da Terra Nova.

 

Fontes: A Aurora do Lima:23-07-1920; 20-02-1923

 

Viana do Castelo, 2010-05-09

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 09:50

12
Mai 10

LUGRE "RIO LIMA"

 

Em 12 de Setembro de 1919 o jornal "A Aurora do Lima" fazia referência ao início da construção do lugre "Rio Lima", destinado à pesca do bacalhau nos mares da Terra Nova para a Parceria de Pescarias de Viana. O Rio Lima era o terceiro navio daquela empresa construído para esse efeito, em resultado do cumprimento do plano inicial de aquisição de três navios que só agora foi possível pôr em execução devido à guerra.

O lugre "Rio Lima" foi construído nos estaleiros da Parceria, no Largo 5 de Outubro e lançado à água no dia 22-01-1920, cerca das 15:20 horas perante numerosa assistência vinda dos mais recônditos locais de Viana e arredores, como era hábito em acontecimentos semelhantes.

Este belo navio foi construído sob orientação do mestre construtor naval sr. José Lopes Ferreira Maiato e tinha como características principais: Tonelagem de arqueação bruta 317,33 tons; tonelagem de arqueação líquida 264,42 tons; comprimento entre perpendiculares 48,00 metros; boca (1) 9,80 metros; pontal (2) 4,47 metros e alojamentos para 41 tripulantes.

A curiosidade que despertava nas pessoas o lançamento à água de um navio novo, especialmente para a pesca do bacalhau, como nos dá conta "A Aurora do Lima", é disso digno de registo "... fez com que em toda a margem, desde a Alfândega até à doca, os caes se coalhassem de gente da cidade e das aldeias próximas, e no rio uma grande porção de barcos que vogavam cheios de espectadores concorria para a bellesa d'aquelle espectáculo sugestivo e brilhante, que oxalá repetisse por muitas vezes".

Estes eventos, importantes na vida de uma empresa, eram aproveitados para festejar com autoridades, amigos e trabalhadores, que de uma forma ou de outra contribuíram para o processo, trocando impressões uns, outros dando largas à sua fogosidade e animação num convívio retemperador de energias para novas tarefas.

O momento do bota- abaixo é sempre precedido de alguma expectativa e ansiedade, mas, logo que se cortam as amarras que prendem o navio ao berço que o viu nascer e crescer, e o volume inerte desliza nos carris e mergulha nas águas calmas do Lima, estralejam os foguetes, as businas e apitos dos navios surtos no porto vibram incessantemente; assobios, palmas, clamores de alegria soam por todo o lado onde as pessoas se amontoam para ver tão importante como estranho fenómeno para muitos um "milagre", tão incrédula é a sua visão.

Um acontecimento desta natureza numa cidade da província onde tão poucas coisas dignas de monta acontecem, é sempre aproveitado para comemorar com "opíparo" banquete, como aconteceu com o lançamento à água do lugre "Rio Lima".

A casa da D. Anna Malheiro Pitta de Vasconcellos, contígua ao estaleiro, por gentileza desta senhora, foi aproveitada pela Parceria, para oferecer um lanche que foi muito concorrido por grande número de pessoas da mais alta sociedade Vianense que aos brindes dos srs. Dr. Jesus Araújo, Rodrigo de Abreu e Lima e Álvaro de Araújo desejaram as maiores prosperidades à Parceria e ao comércio em geral, agradecendo no final, em nome da empresa o sr. João Baptista Ferreira.

Terminado o lanche, nos escritórios da firma, que ficavam situados nos baixos do prédio onde este decorreu (3), foi inaugurado um "... excellente retrato do nosso ilustre amigo sr. dr. Gaspar Teixeira de Queiroz, integérrimo Juiz de Direito, que foi sem dúvida alguma, a alma mater da creação d'aquella sociedade mercantil.",como refere o "A Aurora do Lima" de 23-01-1920.

A apologia do ilustre homenageado foi feita pelo gerente da Parceria o sr. João Baptista Ferreira, também ele um fundador, enaltecendo as qualidades morais e o dinamismo e empenho que o homenageado devotou a Viana do Castelo e ao seu crescimento e engrandecimento (4).

Neste acontecimento tão importante para os Estaleiros, Parceria de Pesca de Viana e para a cidade, não podiam ficar de fora os principais intervenientes, os que deram corpo e forma a tão belo como robusto navio, dando o melhor do seu saber e do seu esforço, quantas vezes suportando riscos que a profissão comporta, que são os trabalhadores.Também para eles houve reconhecimento da Parceria que na carpintaria dos Estaleiros mandou montar uma longa mesa, onde coubessem todos, belíssimamente decorada e onde não faltou comida com abundância para todo o pessoal.

Para rematar tão brilhante festa, que movimentou muita gente na cidade, especialmente a Confeitaria Brasileira, que serviu o banquete, realizou-se nas salas do palacete, uma animadíssima e concorrida festa onde se dançou até cerca das três horas da madrugada.

Eram assim naquele tempo os "bota-abaixo" dos navios da Parceria, que primava e fazia jus em assinalar de forma impressiva tão importantes datas.

 

Glossário:

(1) Boca - largura máxima

(2) Pontal - altura da quilha ao convés

(3) Local onde se situa actualmente o restaurante "Casa de Armas"

(4) O Dr. Gaspar Teixeira de Queiroz era natural dos Arcos de Valdevez

 

Fontes:

"A Aurora do Lima": 12-09-1918;23-01-1920

 

Viana do Castelo, 2010-05-07

Manuel de Oliveira Martins


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08
Mai 10

 

O MEDO DA GUERRA

 

Na figueira da Foz, principal porto bacalhoeiro no primeiro quartel do Século XX, no ano de 1917, conforme noticiava o “A Aurora do Lima” do dia 13-02-1917, os navios bacalhoeiros daquele porto estavam em risco de não saírem nesse ano para os mares da Terra Nova.

Na origem desta decisão por parte dos armadores, a braços com graves problemas financeiros, resultantes dos encargos com apetrechamento e manutenção dos navios, a falta de saída do produto em consequência da crise e o decréscimo do valor de venda a que se juntou um outro factor que fez cair por terra a viabilidade mínima que os navios tinham de operar nesse ano.

Esse factor era imposto pelas tripulações, nomeadamente pelos capitães que exigiam, no caso de trazerem bastante carga, 6 contos cada um e um subsídio de 1$500 reis por dia a ser pago às famílias dos tripulantes em caso de morte ou por desastre em consequência da guerra. (Penso estar aqui, nestas reivindicações justas, mas que os armadores não podiam pagar, a origem da Mútua dos Armadores, como forma de, associados, poderem fazer face aos encargos em caso de sinistro).

A vida da pesca do bacalhau é árdua e, naqueles tempos mais dura ainda e agravada pelo espectro de naufrágio motivado pela guerra. Não admira, portanto, esta reivindicação dos capitães que temiam pela sua vida e dos pescadores e principalmente dos familiares que deles dependiam.

A razão assistia dos dois lados, armadores e trabalhadores, a culpa era da crise que há muito se havia instalado, não encontrando os governantes forma de a resolver.

Nesse mesmo ano, o país foi confrontado com mais uma revolução liderada por Sidónio Pais, pretendendo mostrar o descontentamento pela forma como a classe política, pós revolução de Outubro de 1910, tinha deixado chegar o país, pior do que estava no tempo da Monarquia.

A Parceria de Pescarias de Viana, jovem empresa do sector pesqueiro, ponderada a situação e baseada nas últimas declarações do governo alemão, que o seu fim não é atacar qualquer navio, mas sim impedir que os países mais directamente interessados e intervenientes na guerra possam abastecer-se, Portugal estava fora desse âmbito, resolveu mandar aprestar os navios, “Santa Luzia” e “Santa Maria” para partirem na época.

 

Fontes : A Aurora do Lima 13-02-1917

 

Viana do Castelo, 2010-04-25

Manuel de Oliveira Martins

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29
Abr 10

A GUERRA E A POBREZA EM VIANA

 

Portugal ainda não refeito da mudança radical que se operou com a revolução Republicana de 1910, com uma instabilidade governamental, que impedia a saída da crise, estava envolvido na 1.ª Grande Guerra Mundial agudizando de forma significativa a vida dos seus habitantes.

Viana do Castelo e toda a Região do Alto Minho, sentiu ainda mais os efeitos da crise, política, económica, financeira e social em que o país estava mergulhado.

Havia pobreza em Viana do Castelo, os pescadores não iam ao mar motivado pela escassez de peixe na costa, os lavradores dependentes duma agricultura de subsistência pouco produziam, não havia poder de compra entre as classes mais desfavorecidas que dependiam do seu trabalho e este não havia.

A Parceria de Pescarias de Viana, recentemente constituída estava com dificuldades em vender o bacalhau capturado no 1.ºano da sua actividade. Por este motivo e também para amenizar  a vida dos mais carenciados, decidiu “oferecer ao município o bacalhau que tem armazenado para ser vendido ao preço de 350 reis o quilo do de 1.ª, 310 o de 2.ª e 280 o de 3.ª”.

Foi uma medida acertada tomada pelo gerente da empresa, sr. João Baptista Ferreira que desta forma resolveu duas situações, não ganhou mas não perdeu e possibilitou que as classes trabalhadoras pudessem “tirar a barriga de misérias” adquirindo o “fiel amigo” a um custo acessível às suas bolsas.

Nesse ano de 1916 em que ocorreu o facto que relatamos, a Parceria de Pescarias de Viana mandou os navios para os mares da Terra Nova.

O lugre “Santa Luzia” comandado pelo sr. capitão Manuel Marques Mano Agualusa, fez a viagem de Viana a Lisboa, onde foi abastecer de mantimentos e sal, no tempo recorde de 22 horas e 15 minutos, apesar de ter navegado longe da costa, por supor que os faróis se encontravam apagados por causa da guerra, perdendo caminho e tendo de esperar para entrar, com diz o capitão,“cheguei a Cascaes às 10,30 horas da manhã. Alli obrigaram-me a pairar até às 11 horas da manhã, que foi quando recebi o prático e depois de cumpridas as formalidades da actual situação (1), o navio seguiu para a barra”.

A manobra de entrada na barra de Lisboa à vela foi surpreendente e revela as qualidades náuticas  do navio mas também de quem o comanda e manobra. O relato que faz o capitão Agualusa é disso esclarecedor, “À frente navegava um vapor, puxando (2) 10 milhas.

O vento refrescou mais no apertado da barra (3) e o navio apanhou tal seguimento, que foi preciso arrear alguns pannos para não ver o “Santa Luzia” saltar por cima do vapor.

No dia seguinte, na capitânia, o prático que pilotava o vapor, deu-me os parabéns pela boa marcha do nosso “Santa Luzia”.

E assim pode V. ver que os bons navios muitas vezes encobrem a falta de energia dos seus capitães...”

Os bacalhoeiros que partiram no início de Maio para os bancos começaram a regressar a partir de meados de Outubro como foi o caso  de alguns navios da praça de Lisboa que aportaram a Viana do Castelo para descarregar o pescado para a secagem.

No dia 17 de Outubro de 1916 entraram em Viana o lugre (4) “Argus”, a escuna (5) “Creoula” e o patacho (6) “Neptuno”. Todos eles foram rebocados pelo vapor “Mosquito” propriedade do senhor João Magalhães. Mais uma vez aqui se regista a falta de um rebocador para auxílio das manobras e as dificuldades que os práticos dessa época tinham em manobrar os navios na entrada da eclusa do canal de acesso à doca.

Um dos navios que teve dificuldade em entrar, por ser o de maior boca (7), foi o patacho “Neptuno”. Quando entrava no canal da embocadura da doca, tocou no molhe sul e a unha do ancorote (8) ficou entalada entre o cais e o navio provocando neste um rombo junto à proa.

No cais do norte encontrava-se a ver a manobra o mestre calafate senhor António Gonçalves Pinto que notou que o navio estava a imergir (9) sem que de bordo alguém se apercebesse e, pressuroso, saltou para bordo do navio, descendo para o rancho (10) e procedendo a arrombamento de anteparas até chegar ao local do rombo com o intuito de o tapar.

Como um navio na situação de água aberta (11) constitui um perigo para a navegação em porto, o Capitão do Porto, responsável pela segurança, determinou que o navio seguisse para o Cabedelo a fim de ser encalhado numa coroa de areia.

O “Mosquito” que já se encontrava na amarração, teve de retroceder para rebocar o “Neptuno” para o Cabedelo, onde foi encalhado. Durante o trajecto e apesar das bombas de esgoto do navio terem trabalhado incessantemente para esgotar a água que jorrava pelo rombo, chegando a atingir “a altura de metro e tanto”.

Se não fora o pronto serviço efectuado pelo rebocador e calafate António Gonçalves Pinto, a que se deve associar a Corporação dos Pilotos e outros que intervieram na operação, o “Neptuno” teria submergido na doca ou no canal do rio, causando danos imprevistos à navegação, ao porto e à região.

Mas nem tudo foi mau nesse ano, a 24 de Outubro entrava a barra de Viana, proveniente dos bancos da Terra Nova, o lugre “Santa Maria” com um carregamento de bacalhau, consignado à Parceria de Pescarias de Viana.

Glossário:

(1)  – Deve querer referir-se à guerra.

(2)  – Puxar = Puchar fogo – significa nos navios a vapor aumentar o fornecimento de carvão à caldeira para dar mais velocidade.

(3)  – Apertado da barra – Entre S. Julião da Barra e o Bugio.

(4)  – Lugre – Navio à vela de mais de três mastros que enverga pano latino.

(5)  – Escuna – Navio à vela de dois mastros com um mastaréu em cada um deles.

(6)  – Patacho – Navio de dois mastros (traquete e grande) o traquete com pano redondo e o grande com vela latina e gave-tope.

(7)  – Boca – largura máxima do navio.

(8)  – Ancorote – Âncora pequena.

(9)  – Imergir – afundar.

(10) - Rancho – local onde são servidas as refeições.

(11) - Água aberta – a meter água

Fontes : A Aurora do Lima: 18-02-1916; 09-05-1916; 20-10-1916; 24-10-1916

Viana do Castelo, 2010-04-21

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 18:27
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21
Abr 10

RESULTADOS DE 1914

 

O ano de 1914 registou nos portos do Norte de Portugal um substancial aumento, 40.134 quilogramas mais do que no ano anterior, ao contrário de Lisboa que registou um decréscimo de 13.172 quilos de bacalhau.

Apesar da guerra (1914-18) que condicionava toda a navegação, a pesca do bacalhau foi em certa medida poupada pelos alemães, que não encontravam justificação para atacar os barcos portugueses, enquanto que aos navios oriundos de Inglaterra, Noruega e Dinamarca, donde era importado grande parte do bacalhau que se consumia em Portugal, assim não sucedia, sendo frequentemente atacados.

Por esse motivo, em 1915, alguns bacalhoeiros portugueses ainda se aventuraram na expedição aos mares da Terra Nova, foram eles: Os lugres "Julia 1.º,2.º,3.º e 4.º", o "Voador" e o "Lucília" da praça da Figueira da Foz; os lugres "Gamo", "Guadiana", "Terra Nova", "Náutico", "Argonauta" e o iate "Açor", registados no porto de Lisboa e também saíram de Viana do Castelo os lugres "Santa Luzia" e  "Santa Maria".

Da análise do mapa abaixo, verifica-se que a Figueira da Foz era o porto maioritário, com um peso de bacalhau de quase metade dos portos referenciados, seguindo-se o Porto com cerca de metade da F. da Foz e em 3.º lugar Lisboa. Os portos de Viana do Castelo e Aveiro representavam nesta época uma parcela diminuta no computo nacional.

 

 

 

PORTOS

QUANTIDADE (Kgs)

%

IMPOSTO (reis)

Figueira da Foz

111.266

44,8

13.350$920

Porto

60.023

24,2

7.214$790

Viana do Castelo

20.306

8,2

2.436$670

Aveiro

14.923

6,0

1.790$720

Lisboa

41.563

16,8

4.987$580

TOTAL

248.081

100,0

29.780$680

O imposto do pescado contabilizado, representava 6% do valor do bacalhau verde salgado, imposto que foi criado por portaria de 14 de Abril de 1886, assinada pelo ministro do Fomento Marianno Cyrillo de Carvalho, rectificando um despacho do anterior ministro do Fomento, Hintze Ribeiro, que num acto mesquinho e apressado, antes da chegada dos dois únicos navios que nesse ano de 1885, o Julia I da Figueira da Foz e o Gazella de Lisboa, se aventuraram a pescar bacalhau nos mares da Terra Nova, determinava que as Alfândegas cobrassem aos navios portugueses o mesmo imposto que era devido pela importação de bacalhau do estrangeiro, em vez do imposto do pescado do bacalhau salgado em verde.

Esta medida fiscal visava exclusivamente arrecadar para os cofres do reino uns míseros contos de reis, matando à nascença a ousadia e o risco que alguns comerciantes, fartos de comprarem bacalhau aos monopolistas estrangeiros, intentaram em mandar armar e equipar dois navios para ir pescar o "fiel amigo" aos mares da Terra Nova, como nos Séculos XV e XVI os seus antepassados haviam ousado.

No ano de 1915 os navios partiram no fim de Maio e chegaram no fim de Outubro. Talvez não seja alheia a este atraso, a indefinição sobre se deviam ou não ir naquele ano à Terra Nova. Repare-se que do Porto e de Aveiro não saíu nesse ano qualquer navio para a pesca do bacalhau.

Nesse ano, a Parceria de Pescarias de Viana,"Depois de larga discussão, resolveu que o bacalhau seja vendido à comissão, (presume-se que seja a Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau) visto que outra forma de venda exigia serviços vários que muito prejudicariam os interesses daquela parceria".

Num acto digno de registo, a parceria resolveu ainda nesse ano vender à Câmara Municipal de Viana do Castelo, 6.000 quilogramas de bacalhau com um abatimento de 2$000 reis sobre o preço de mercado, com a condição que esse bacalhau fosse vendido a retalho às classes mais pobres, como forma da Parceria ir ao encontro das necessidades e carências da população de Viana do Castelo.

Fontes: A Aurorado Lima: 11-11-1885; 19-04-1886; 08-06-1915; 02-11-1915; 19-11-1915

Viana do Castelo, 2010-04-18

Manuel de Oliveira Martins

publicado por dolphin às 17:02
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